sábado, 16 de janeiro de 2010

Ai de ti, Haiti!


Da nação ilhada de ilusão da corte à ocupação estrangeira sem fim,
Arregimentou falsos príncipes, saqueadores e déspotas vitalícios,
E de repente o mundo descobriu sua posição geográfica,
Tarde demais: o que nada era; nada restou de vez.


A extrema precariedade da vida,
O corte singular dos restos humanos,
O que era Purgatório invadiu o Inferno.
Haiti, a vã esperança que ruiu.


O assombro das construções com fragilidade de papel,
A miséria internalizada que explosivamente veio à tona,
O cercado ficcional onde milhares tremem de fome,
O abalo sísmico da eterna barriga vazia de seus filhos.


Indiferença do mundo ou fatalidade maldita?
Quanta dor poderá suportar um ser vivo?
Privado de tudo, ceifado de sua mínima essência,
Haiti, terra de severidade abissal.


O indissociável cheio putrefato da morte perambulante,
Tantos pares de olhos se fundem diante do insano espetáculo,
Dos escombros soletram esmaecidos sussurros de sobrevida,
Diante da hecatombe, corpos flácidos embevecido em sangue.


Pequenos infantes clamando por seus pais garfados pelas trevas,
Homens e mulheres orando perplexidade e agonia pela cria perdida,
Estrondo do concreto apodrecido permeia por todo o atlântico,
Haiti, sucursal infeliz de um dantesco Inferno.


Quem controla a natureza das coisas?
Alguns segundos e o que já era frágil derreteu-se no solo,
Quem guardava uma réstia de esperança na palma da mão,
Hoje os dedos são insuficientes para contar tantos mortos.


Nação latino-americana que primeiro ecoou sua flâmula independente,
Do sonho a realidade, acordou refém de uma história de vala-comum,
Instabilidade política, caos explícito e corriqueiros jorros sanguinários,
Haiti, terra de barbárie permanente.


O grito de dor ressonando no cimento disforme,
Toneladas de entulho sobre tantas inocentes almas,
Pedaço de chão esquecido por Deus e pelo mundo,
Nação surreal de mortos-vivos e corpos abandonados.


Quem poderá deter a fúria da Natureza?
Quem poderá cessar a mediocridade estúpida do homem?
Refém da caridade alheia, paralisia de um futuro que jamais chegou,
Haiti, onde a esperança não tem pressa para voltar.

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