No cálice obscuro da essência,
A linha entre o imaginário e real foi violada,
Sobressalente, a vontade foi desfigurada,
Sobre o solo, cinzas e um pouco de agonia.
As nuvens dizem pouco sobre o passado,
Quem poderia prever o futuro,
Quem garante a precisão dos fatos,
Inúteis, todos os esforços foram sublimados.
Quantas palavras implodidas perambulam no ar,
Saliva seca e silêncio canhestro no paladar,
Luzes e rimas sem sinais de alguma conclusão,
Diante do vazio, as lamúrias de um querer suprimido.
O dia ascende tímido no céu,
Respirar até os pulmões começar a reclamar,
O que resta quando o chão se abre?
Nada!... Além do próprio semblante no espelho.
O sinal fecha e a luz enegrece,
Prostrado, o corpo permanece imóvel,
Quem sabe no compasso de um momento propício,
A anfetamina inoculada não faz o prometido milagre.
Agora, a chuva que cai lá fora,
Estilhaça seus pingos na janela,
Pensamentos marejados pelo tempo,
Sentenciam o valor das banais ações.
Com temor do escuro, a mão inquieta apaga a luz de parafina,
O breu domina toda a paisagem com toques tingindo a espinha,
Pássaros bicam na janela uma sinistra melodia,
Desatina no vácuo: “Quem eu sou quando estou ausente de mim?”
De passagem, as respostas parecem trafegar em trilhos de trem,
De estação em estação, a razão talvez possa chegar com mais segurança,
Na trilha do dissabor desconfortável da angústia,
O desvelo da alma é o reconhecimento de tudo ao redor.
Em fúria, há momento que se deseja o Inferno para o mundo,
Todavia, com mais calma e oxigênio se percebe que nem tudo é em vão,
Na superfície da escrivaninha está o espaço deixado pela fotografia,
Lembranças tecem latejantes sobre a pele tanto quanto espinhos em brasa.
O corpo pede em tom de quase desespero para ser imaculado,
De sobreaviso, o coração anseia para não mais estilhaçar novamente,
Somente quem respira poderá contar alguma história,
E toda liberdade apenas sobrevive na retina do olhar.
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