quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Rimas Salobras (Inúteis Vocábulos)



Quais as razões do pranto?
Lágrimas que minam do olhar,
Se tudo agora perdeu o encanto,
Na hora inexata que passamos a nos desencontrar.


Não precisa acenar no alto do muro de lamento cada defeito,
Desnecessário recitar aquelas desculpas frágeis e tão bem conhecidas,
Sem recorrer às tolices, sabemos que na vida nem tudo é perfeito,
Para baixo é mais fácil descer qualquer escada às escondidas.


Pieguices de lugar-comum: tudo foi bom na medida imprecisa que perdurou!
Talvez fosse melhor prorrogar alguns minutos adicionais na despedida,
Sem o uso de qualquer estúpido bilhete, na interdição que nada agora restou,
Reguemos algumas canções na cabeça que por alguns dias foram nossa medida.


Sem ilusões à favor, nenhuma boca unida permanece nessa posição eterna,
Com pregos nas palmas das mãos, os caprichos da vida são pústulas dilacerantes,
Pouca durabilidade sobrevive além de um sexo frígido numa cama sem baderna,
Agora em treva, nem luzes ou faroletes são ofertados como presentes.


Perdidos a dois, vencidos pelos espinhos da solidão,
Cada passo desencontrado segue agora o seu destino,
As juras amorosas são despejadas na escuridão,
Esquecemos nossa conduta sem a presença de nenhum paladino.


A incerteza prevalece sobre as virtudes da vontade,
O desejo incontido cedeu lugar para a pobreza da apatia,
Altivos e irresponsáveis, os olhares cerram-se por inútil vaidade,
A partilha dos segredos comuns deu o último suspiro da fatal arritmia.


Calemos aqui para não provocar mais profanação,
Desgastes tortuosos nos rifles carregados dos insensatos,
Ofensas e posturas de hostilidades que somente levam a inação,
Pode a vida se resumir a um permanente esconderijo de ratos?


Celebremos sem glória a nossa intangível derrota,
Admitamos a discórdia salobra da guerra desejosa a ser vencida,
Dilacerados com nódoas no peito, assim seguiremos a bancarrota,
Também é possível lamentar mais uma oportunidade perdida.


Apartados. Deixemos os caminhos unipessoais para serem reconstruídos,
Cavalheirismo. Resta então dedicar uma boa sorte na aventura dos seus passos,
Resignação. Aceitaremos o silêncio mutuo como elos de vocábulos grunhidos,
Recado. Lembre-se que tudo na vida tem seus limitados percalços.


Tantas vezes queremos rimar com impávida galhardia,
Os sentimentos e as palavras que afloram nos lábios dormentes,
A verdade ansiada é pétrea e seguiremos afastados a cada dia,
E o que era breve primavera volta a ser vaso com meras sementes.

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