quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Impressões de Porto Alegre


Cidade de beleza singela,
Contraste entre nobreza e decadência,
Um ritmo interiorano,
De uma metrópole erguida nos Pampas.


Dos aromas do Mercado Público,
O tráfego intenso de mercadorias,
A erva-mate à disposição,
Vai-e-vem de chimarrão como tradição.


A Copacabana dos pães,
Ala minuta no cardápio,
Um jeito esguio de conversar,
Meio acanhado e meio atravessado,
Querendo sempre desamarrar.


Entre o Olímpico e o Beira-Rio,
Duas paixões em tons de três cores e o vermelho,
O centro já envelhecido,
A beleza de alcova esquecida da Farrapos,
Entre a Salgado Filho
E a Andradas,
Um corredor de gente,
Uma feira imersa na informalidade,
Entre barracas, gritos e sorrisos,
Toda cidade batizada,
Nas águas do Guaíba,
O Porto mais alegre do país.


(Porto Alegre, 16 de fevereiro de 2008.)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

As partes do todo



De tudo o que resta,
Nada está completo,
Falta algo sempre a ser encontrado,
Dedos desorientados procurando em gavetas e armários,
Papéis avulsos vagando em diversas partes,
No sótão perdido na memória.
A parte que parte,
A parte que falta,
A parte que sobra,
A parte que não encaixa,
A parte solitária,
A parte afastada,
A parte evadida,
A parte ignorada,
A parte lograda,
A parte extraviada.

Tantas partes que compõe o todo,
Tantas partes que não podem ser esquecidas,
Tantas partes deixadas isoladas,
Tempo que leva tantas partes.

A cada parte do todo,
A cada mundo que cabe dentro das partes,
A parte que caminha,
A parte que estanca,
A parte que interdita,
A parte que grita,
A parte que curva,
A parte que cala,
A parte que viceja,
A parte que sente,
A parte que exala,
A parte que julga,
A parte que condena,
A parte que absolve,
A parte que liberta,
A parte que sorve,
A parte que mata,
A parte que sucumbe,
A parte que perece.

Cada parte nunca é pouca,
Cada limite que norteia o todo,
Cada réstia de uma parte,
Cada todo cheio de partes.

Um desejo partido,
Um toque dolorido,
Um fragmento esquecido.
Uma centelha pulsante,
Uma língua dormente,
Uma palavra ausente.
Uma ação tardia,
Uma carta angustia,
Uma metáfora vazia.

A dor latente em cada parte,
A bússola desvairada em cada esquina,
O todo perdido em partes,
As partes prostradas no chão.
Partes assimétricas,
Partes disformes,
Partes justapostas.

O Destino estilhaçado em tantas partes,
O todo diluído em partes,
O coração em pequenos retalhos,
Lábios cortados em muitas partes.
As partes soltas como pétalas,
As partes diluídas como lágrimas,
As partes pisadas e amordaçadas,
Atiradas a esmo dentro do todo.
Tantas partes que compõe a vida,
Algumas partes que nunca morrerão.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Pelos olhos de Maria


Lá estava ela,
Sempre sentada à beira da calçada,
Sem muitos amigos,
Exceto o conforto da amizade de um gato de pêlos escuros,
Companheiro atávico desde quando ela se conhecia por gente,
O mundo sendo formado,
Pelos olhos de Maria.


Seus pais eram tão distantes e solitários,
Sua mãe era tão submissa e dispersa,
E fazia par com a insensibilidade e agressividade do pai,
E no clima de palavras e farpas silenciadas,
Ela crescia com seus lábios travados,
Ouvindo o ranger das janelas do quarto se confundindo com as lágrimas da mãe,
Tudo era dolorido, estranho e cinza,
Pelos olhos de Maria.


Nunca foi a primeira da classe,
Também não fazia nenhuma questão de tamanha ninharia,
Afinal, do que serviria a tabela periódica e a tabuada,
Para dias periódicos de monolítica ausência de alegria multiplicada?
Da casa para a escola,
E refazia cotidianamente o caminho inverso,
Todo santo dia,
Exceto nos dias santificados,
Todos os feriados eram iguais,
Pelos olhos de Maria.


Não conheceu avós,
Tampouco foi atrelada a tios ou qualquer outro familiar,
As primas eram tão chatas quantos os professores de matemática,
Com o arrefecer do Tempo,
Das aulas de Física pouco aprendeu,
Mas, no entanto, no seu físico algo aconteceu,
Algumas gotas de sangue entre as pernas,
Sentiu-se tão assustada e com baita mal-estar,
Tontura e desespero,
De onde vinha aquilo, castigo?
Das amigas (que amigas?) nada falaram a respeito,
Sangrando foi procurar a mãe,
E com uma resposta seca teve que se contentar:
“É o corpo se transformando, minha filha!...”
Mesmo pouco entendendo, seguiu adiante,
A vida era tão profunda,
Quanto à profundidade de um pires,
Pelos olhos de Maria.


Dos pequenos botões brotaram seios,
Das pernas finas,
Engrossaram um pouco mais,
E as mudanças caladas ocorriam,
A escola se tornou cada vez mais chata,
E os dias mais vazios,
Exceto por uma ou outra amiga que trocavam palavras,
Era de pouca conversa,
Tinha medo de tudo,
Tinha medo de não mais poder respirar,
Nada a atraía,
Nem os estupidez juvenil dos garotos,
Nem a bolinada indecente no intervalo do recreio,
O ódio das pessoas e o medo da vida só cresciam,
Pelos olhos de Maria.


Começou a caminhar sozinha,
A ter asco do mundo,
Aprendia que homens e também mulheres matam por mera banalidade,
Percebia que a mentira e a crueldade são as maiores virtudes humanas,
Na medida em que crescia sentia mais medo do mundo,
Era avessa a bugigangas eletrônicas,
E nunca sabia mexer nos botões do celular ou anexar arquivos em correspondência eletrônica,
Os pais permaneciam em Guerra Fria,
E se sentia culpada diante de um campo de batalha,
O tempo transcorria arrastado,
A chatice do mundo crescia,
Pelos olhos de Maria.

Certo dia, numa brincadeira de péssimo gosto,
Os colegas de escola
Pintaram o seu rosto,
Tudo a contragosto!
Correu para o banheiro,
E lavou o rosto,
Eram soluços e tantas as lágrimas,
Que não podiam mais parar:
“Que diabos de mundo eu vim parar!”,
A vida era muito cruel,
Pelos olhos de Maria.


Na TV era só guerra e violência,
Alguns pediam esmolas,
Bem próximo da escola,
E em cada farol,
Mais gente com mãos erguidas,
Não saiba mais o que fazer,
Das amigas fúteis e inimigas não-declaradas,
Uma se destacava,
Chegou a ter certo contato,
Nada que fosse duradouro,
O vazio contínuo lhe preenchia,
Queria fugir,
Mas não podia,
Queria gritar,
Mas o silêncio permanecia,
Tudo era tão hermético,
Tudo era tão pragmático,
Tudo era tão protegido,
Pelos olhos de Maria.


Os dias se sucediam,
Chegou à hora de sair da escola,
Não era brilhante,
Mas passou no tal vestibular,
Qualquer curso já era o bastante,
Só para sair de casa,
Do bate-boca familiar reinante,
Queria viver,
E não podia,
Queria sorrir,
E não entendia,
Queria liberdade,
Mas se sentia fora de sintonia.
Nunca as pessoas lhe faziam companhia,
Tudo era tão frio e áspero,
Pelos olhos de Maria.


Sua indiferença pelo mundo,
Cada vez mais crescia e transbordava,
Viu que os pais tomaram seus próprios rumos,
Pelo menos a mãe poderia enfim respirar,
Era uma vez a família,
Agora já não era mais menina,
E o mundo continuava tão gélido e chato quanto antes,
Pelos olhos de Maria.


Começou então a ter estranhos desejos,
Sonhos angustiados pela morte,
As noites se transformaram em sonolentos dias,
Já não queria ser tão feliz,
E sabia.
Mesmo tendo algum sucesso na faculdade,
Tudo era desagrado,
Ainda queria ser somente um pouco feliz,
E sabia.
Queria fugir do mundo,
Se esconder de todos,
Mãe, pai, colegas, professores e quaisquer espécimes de gente,
Tudo era tédio,
Pelos olhos de Maria.


Não acreditava no Amor,
Nunca amou e nem soube o que era amar,
Este estranho sentimento que havia lido em alguns livros,
Não tinha fantasia,
Mesmo tendo todo bem material que uma garota poderia ter em mãos,
Nada ela queria,
Exceto um punhado da tal felicidade (vacilante, ainda insistia!),
E não sabia.
Tudo era ansiedade,
Pelos olhos de Maria.


Num destes dias à toa,
Uma colega disse que tinha encontra a felicidade em cápsulas,
E disse a ela que viu o mundo girar com intensidade em garatujas multicoloridas,
Logo, a idéia lhe agradou,
Afinal, queria sair da monotonia,
Tudo era desânimo,
Ainda tinha esperança na felicidade.
Numa noite em tempestade,
Acordou de outro pesadelo,
Com a face se transformando em leito para dois longos rios,
Trêmula, ficou parada diante do espelho,
Não queria ver mais a mesma cara,
Queria fugir,
Mas agora sabia,
Tirou da mochila as tais cápsulas,
Tomou um e nada,
Tomou outro e idem,
Decidiu tomar o restante,
Queria tão somente ser feliz,
Pelos olhos de Maria.


No dia seguinte,
Não apareceu na faculdade,
Ninguém sentiu sua falta.
Seus pais estavam distantes,
Somente no final da tarde,
A colega de quarto,
Encontrou a garota prostrada na cama.
Parecia que pela primeira vez,
Fez o que sempre queira,
Deu rédeas para a própria vida,
Queria tanto qualquer coisa que se assemelhasse a tal felicidade,
Agora, encontrou de fato,
Do outro lado,
A vida sendo tão tênue e delicada,
Que é impossível de saber com exatidão,
O que realmente é famigerada felicidade.
Então de repente a vida se tornou mais simples,
E a estupidez tão óbvia,
Pelos olhos de Maria.


E a garota que tinha tamanha tristeza na vida,
Nunca era lembrada por ninguém,
Nunca deixou o amor lhe bater a porta,
Nunca aprendeu que nenhuma felicidade,
Nutre-se de fuga e apatia.
Exceto o desconsolo da mãe,
Ninguém sentiu a sua falta,
Da menina que queria apenas ser feliz,
Como muito já tinha lido,
E não sabia que a vida tem lições tão duras e invisíveis,
Minguados são os caminhos:
Abre o coração para os sonhos,
Ou logo vem inevitável queda ao se trancafiar em si mesma,
Viver não é para principiantes,
Quando se tem tanto medo da vida,
Tal como era pura angústia,
Pelos olhos de Maria.


No final do dia,
Sem sorriso ou alegria,
Ninguém mais lembraria de sua sangria,
Maria foi mais uma alma no mundo que perecia.
O futuro era sempre passado e agonia,
O presente uma grande monotonia.
A felicidade foi apenas uma doce fantasia,
Agora poderia sentir a Paz com alguma harmonia,
Pelos olhos de Maria.

Pèlerin


Je chantai avec toi liberté,
Je luttai avec toi amour,
Je marchai à travers les ombres,
Que je sois mon sang à perte de vue.


Grains de la sable écoules à travers des doigts,
La distance est une ingrate compagnie,
Et ton le visage ne revéle pas,
Avant-scènes du quotidien.


Je vois t´âme se rendre esclave,
Le sphère du crainte te consommes,
Mon mains vides silencieux,
De toute part survivre les coeurs partis.


Prends les clés qui sont sur l´âme,
Demande ce que tu préfères:
Le silence au la sauvertage?


Il y a bruit dehours,
L´amour viendra, peut-être?
Non, le toi crainte a dit que non...


De temps en temps,
Une larme ne serait pas plus le suffisant...
Il est tard, aujourd´hui,
Entretemps, la espérance décénde à la tombée de la nuit.


C´etait impossible d´arriver à l´heure,
Le point du jour,
Les lévres à sec,
Assiste atrophié la tour s´elève à mille métres.


À toi, le passé est la agonia du présent,

Et ton regarder est partie plus tôt...

Si Dieu le permet,

Je retourne au mon Enfer connaissance.

____________________________________

Tradução:


Peregrino

Eu cantei pela tua liberdade,
Eu lutei pelo teu amor,
Eu caminhei através das sombras,
Seja meu sangue a perder de vista.


Grãos de areia escorrem entre os dedos,
A distância é uma ingrata companhia,
E o seu semblante não se revela,
Antecenas do cotidiano.


Eu vejo tua alma se escravizar,
A esfera do medo te consomes,
Minhas mãos vazias silenciosas,
Em toda parte sobrevive corações partidos.


Pegue as chaves que estão na tua alma,
Peça aquilo que você preferir:
O silêncio ou a salvação?


Há barulho lá fora,
O amor virá, talvez?
Não, o teu medo disse que não...


De tempos em tempos,
Uma lágrima não seria mais o suficiente...
É tarde, agora,
Neste meio tempo, a esperança falece ao escurecer.


Era impossível chegar na hora,
O romper do dia,
Os lábios a seco,
Assisto atrofiado a torre se elevar a mil metros.


Em ti, o passado é a agonia do presente,

E teu olhar foi embora mais cedo...

Se Deus quiser,
Eu retorno ao meu Inferno conhecido.

La Chanson en sanglot


Souriant Alice,
Puorquoi pleurer?
Tout est blanc,
Comme la couleur du sa la robe.
Tout est bleau,
Comme la couleur du sa la jupe.
Tout est beau,
Comme la couleur du sa le sourire.
La gaie et le nourriture du sa la âme, la gâteu Alice!
Mon enfant, que la firmament toi protege...

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Dedicatória


Aos cães que ladram,
Solenemente no alto da torre,
Pergunto-me o motivo de tamanho deserto,
O rosnar de dias tão ásperos,
Espetáculo de tingimento com fardo sem igual.


Aos cães que farejam,
Seguindo a trilha dos meus pés,
Sentem o cheio do meu suor,
E o balbuciar de minha ansiedade,
Febril como um hospedeiro de moléstia grave.


Aos cães que avançam,
Corro com os pés em bolhas,
Tão trôpego quanto minhas certezas,
Matilha tão veloz quanto coruja na palidez da noite escura,
Minhas pernas pouco agem além da escaldante estafa.


Aos cães que mordem,
Cravando sem piedade seus dentes na minha carne,
A dor de intensidade ímpar rasgando minha pele,
O grito é eclodido por todo o campo em silêncio,
O corpo se veste de tons borrados de vermelho.


Aos cães que choram,
Após a bonança vem o arrependimento,
Mesmo com olhares canhestros de perdão, não aceito a lágrima cruel,
Saboreiem o sangue deslizado entre os cantos da boca,
Como fruta amarga de falso sabor de vitória.


Aos cães que oram,
Lembrem-se que a mão que cativou os mesmos olhares,
E a mesma que agora foi partida com os dedos dilacerados,
Olhos moribundos que não encontram Paz até a última réstia de luz,
Cruzada infinita onde pudesse iluminar um onírico coração.


Aos cães que partem,
Deixem meu corpo aqui e não rabisquem nada na lápide,
Jazendo com minha fé roubada na batalha sem trégua,
Não deixem seus famintos instintos olharem para trás,
Vá! Caminhem pela estrada e sigam com qualquer Paz na guerra perdida por todos.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Flores que jazem


Há flores que jazem,
Quase indefinidamente ao esmorecer do Sol,
Sombria natureza de uma canção melancólica,
Sem pólen,
Sem aroma,
Sem claridade,
Declinando sobre seus caules,
A palidez dos dias secos,
As flores sucumbem sem a esperança de se fortificarem...


Há flores que jazem,
Esquecidas no parapeito de alguma janela fechada,
Exaustas ao pé da porta trancafiada,
Num vaso trincado com gotas de sangue ou lágrima,
Herança de algum corte sutil e mordaz,
Solo infértil de areia e sal,
Pétalas soltas caindo lentamente sobre a calçada,
Na cidade de concreto desalmado,
Entre os sulcos de velho asfalto,
Entre pedras opacas ou muros úmidos,
As flores que antes abrigavam lábios em sorriso,
Cederam espaço para estéreis musgos insossos.


O que restou do imenso jardim que outrora se erguia florindo?
Aonde foi parar riso tímido da certeza de momentos tão sublimes?
O silêncio que desidrata e faz fenecer as raízes de tantas flores,
Extraviaram os dedos tão delicados ao toque de cada pétala,
Gramas esbranquiçadas avançaram sobre as flores demolidas,
O ritmo reinante da composição se fragmentou em melodias banais,
Secas, solitárias e despetaladas,
As flores enfeitam algum jazigo perdido,
O refluxo pendular,
De mais um dia,
Sem cor ou alegria,
A paisagem se mescla num caleidoscópio monocromático,
Distância limitada entre realidade e lembrança,
No tempo das incertezas e da fobia ao risco,
Mãos expostas ao vento,
Sem nada a conquistar,
Nenhum prêmio ou troféu,
A incomunicável estrada sem vencedores.


No jardim deserto,
As flores nunca jazem em Paz.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

A estrada em círculos


Com quantas gotas de orvalho,
Constrói-se uma Primavera?
Com quantas cicatrizes gravadas na alma,
Delimita o campo da dor?
Com quantos goles de álcool,
É possível esquecer alguma saudade?
Com quantos passos exaustos,
É feito uma longa caminhada?
Com quantas palavras sacrificadas,
Faz quebrar o silêncio?


Na marcha em busca de um abrigo,
A nostalgia onírica de algum lugar seguro,
Diferente de tudo o que há ou já existiu,
A rota itinerante está deserta,
Ventania e insolação se intercalam,
A estrada em círculos é pura desertificação,
O Sol a pino nos maltrata severamente.


Caminhos acuados de minguadas opções,
Tantas formas inúteis de fechar o corpo,
Preservar a dor na alma,
Nenhuma garantia é fornecida,
O leve beijo no crucifixo,
A leitura da passagem de algum livro sagrado,
Uma breve oração calada,
Confundem-se com a ilusão dos dias,
A estrada é tortuosa e insegura,
Cautela com falsos conselhos e atalhos fáceis,
Segure bem firme minhas mãos,
Esqueça os temores infernizando seus tímpanos.


Aeroplano ou lombo de burro,
Automóvel ou submarino,
Fio de cobre ou fibra ótica,
Morfina ou Prozac,
Qualquer meio é suficiente,
Para a partida insólita de si,
Todo transporte é válido,
O Destino de difícil espera,
Castiga a todos por cansaço,
Fere a todos por estilhaço,
Cacos de vidro ou estalactites desprendidas,
Toda fuga é um constante vazio.


Setas mal sinalizadas,
Placas escondidas por densa vegetação,
A estrada sem eira e sem nenhuma beira,
A paisagem que se repete monoliticamente,
As turvas lembranças diante de poças d´águas,
Agora chove, mas logo cessará seus respingos,
Roupas encharcadas de água e angústia,
Pés cansados de tanto amassar o mesmo chão,
E novamente a rotina da paisagem segue em desatino,
Um vício latejante,
Circundando a estrada,
Tudo é trazido à tona,
Tão difícil de romper quanto à inércia de nossos medos,
Tão invisível quanto às luzes apagadas em uma loja de cristais,
Tão penetrante quanto à fina lâmina que percorre o pulso,
A sensação que a vida gira num calabouço em círculos.