domingo, 3 de fevereiro de 2008

Dedicatória


Aos cães que ladram,
Solenemente no alto da torre,
Pergunto-me o motivo de tamanho deserto,
O rosnar de dias tão ásperos,
Espetáculo de tingimento com fardo sem igual.


Aos cães que farejam,
Seguindo a trilha dos meus pés,
Sentem o cheio do meu suor,
E o balbuciar de minha ansiedade,
Febril como um hospedeiro de moléstia grave.


Aos cães que avançam,
Corro com os pés em bolhas,
Tão trôpego quanto minhas certezas,
Matilha tão veloz quanto coruja na palidez da noite escura,
Minhas pernas pouco agem além da escaldante estafa.


Aos cães que mordem,
Cravando sem piedade seus dentes na minha carne,
A dor de intensidade ímpar rasgando minha pele,
O grito é eclodido por todo o campo em silêncio,
O corpo se veste de tons borrados de vermelho.


Aos cães que choram,
Após a bonança vem o arrependimento,
Mesmo com olhares canhestros de perdão, não aceito a lágrima cruel,
Saboreiem o sangue deslizado entre os cantos da boca,
Como fruta amarga de falso sabor de vitória.


Aos cães que oram,
Lembrem-se que a mão que cativou os mesmos olhares,
E a mesma que agora foi partida com os dedos dilacerados,
Olhos moribundos que não encontram Paz até a última réstia de luz,
Cruzada infinita onde pudesse iluminar um onírico coração.


Aos cães que partem,
Deixem meu corpo aqui e não rabisquem nada na lápide,
Jazendo com minha fé roubada na batalha sem trégua,
Não deixem seus famintos instintos olharem para trás,
Vá! Caminhem pela estrada e sigam com qualquer Paz na guerra perdida por todos.

Nenhum comentário: