Com quantas gotas de orvalho,
Constrói-se uma Primavera?
Com quantas cicatrizes gravadas na alma,
Delimita o campo da dor?
Com quantos goles de álcool,
É possível esquecer alguma saudade?
Com quantos passos exaustos,
É feito uma longa caminhada?
Com quantas palavras sacrificadas,
Faz quebrar o silêncio?
Na marcha em busca de um abrigo,
A nostalgia onírica de algum lugar seguro,
Diferente de tudo o que há ou já existiu,
A rota itinerante está deserta,
Ventania e insolação se intercalam,
A estrada em círculos é pura desertificação,
O Sol a pino nos maltrata severamente.
Caminhos acuados de minguadas opções,
Tantas formas inúteis de fechar o corpo,
Preservar a dor na alma,
Nenhuma garantia é fornecida,
O leve beijo no crucifixo,
A leitura da passagem de algum livro sagrado,
Uma breve oração calada,
Confundem-se com a ilusão dos dias,
A estrada é tortuosa e insegura,
Cautela com falsos conselhos e atalhos fáceis,
Segure bem firme minhas mãos,
Esqueça os temores infernizando seus tímpanos.
Aeroplano ou lombo de burro,
Automóvel ou submarino,
Fio de cobre ou fibra ótica,
Morfina ou Prozac,
Qualquer meio é suficiente,
Para a partida insólita de si,
Todo transporte é válido,
O Destino de difícil espera,
Castiga a todos por cansaço,
Fere a todos por estilhaço,
Cacos de vidro ou estalactites desprendidas,
Toda fuga é um constante vazio.
Setas mal sinalizadas,
Placas escondidas por densa vegetação,
A estrada sem eira e sem nenhuma beira,
A paisagem que se repete monoliticamente,
As turvas lembranças diante de poças d´águas,
Agora chove, mas logo cessará seus respingos,
Roupas encharcadas de água e angústia,
Pés cansados de tanto amassar o mesmo chão,
E novamente a rotina da paisagem segue em desatino,
Um vício latejante,
Circundando a estrada,
Tudo é trazido à tona,
Tão difícil de romper quanto à inércia de nossos medos,
Tão invisível quanto às luzes apagadas em uma loja de cristais,
Tão penetrante quanto à fina lâmina que percorre o pulso,
A sensação que a vida gira num calabouço em círculos.
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