sábado, 2 de fevereiro de 2008

Flores que jazem


Há flores que jazem,
Quase indefinidamente ao esmorecer do Sol,
Sombria natureza de uma canção melancólica,
Sem pólen,
Sem aroma,
Sem claridade,
Declinando sobre seus caules,
A palidez dos dias secos,
As flores sucumbem sem a esperança de se fortificarem...


Há flores que jazem,
Esquecidas no parapeito de alguma janela fechada,
Exaustas ao pé da porta trancafiada,
Num vaso trincado com gotas de sangue ou lágrima,
Herança de algum corte sutil e mordaz,
Solo infértil de areia e sal,
Pétalas soltas caindo lentamente sobre a calçada,
Na cidade de concreto desalmado,
Entre os sulcos de velho asfalto,
Entre pedras opacas ou muros úmidos,
As flores que antes abrigavam lábios em sorriso,
Cederam espaço para estéreis musgos insossos.


O que restou do imenso jardim que outrora se erguia florindo?
Aonde foi parar riso tímido da certeza de momentos tão sublimes?
O silêncio que desidrata e faz fenecer as raízes de tantas flores,
Extraviaram os dedos tão delicados ao toque de cada pétala,
Gramas esbranquiçadas avançaram sobre as flores demolidas,
O ritmo reinante da composição se fragmentou em melodias banais,
Secas, solitárias e despetaladas,
As flores enfeitam algum jazigo perdido,
O refluxo pendular,
De mais um dia,
Sem cor ou alegria,
A paisagem se mescla num caleidoscópio monocromático,
Distância limitada entre realidade e lembrança,
No tempo das incertezas e da fobia ao risco,
Mãos expostas ao vento,
Sem nada a conquistar,
Nenhum prêmio ou troféu,
A incomunicável estrada sem vencedores.


No jardim deserto,
As flores nunca jazem em Paz.

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