De tudo o que resta,
Nada está completo,
Falta algo sempre a ser encontrado,
Dedos desorientados procurando em gavetas e armários,
Papéis avulsos vagando em diversas partes,
No sótão perdido na memória.
A parte que parte,
A parte que falta,
A parte que sobra,
A parte que não encaixa,
A parte solitária,
A parte afastada,
A parte evadida,
A parte ignorada,
A parte lograda,
A parte extraviada.
Tantas partes que compõe o todo,
Tantas partes que não podem ser esquecidas,
Tantas partes deixadas isoladas,
Tempo que leva tantas partes.
A cada parte do todo,
A cada mundo que cabe dentro das partes,
A parte que caminha,
A parte que estanca,
A parte que interdita,
A parte que grita,
A parte que curva,
A parte que cala,
A parte que viceja,
A parte que sente,
A parte que exala,
A parte que julga,
A parte que condena,
A parte que absolve,
A parte que liberta,
A parte que sorve,
A parte que mata,
A parte que sucumbe,
A parte que perece.
Cada parte nunca é pouca,
Cada limite que norteia o todo,
Cada réstia de uma parte,
Cada todo cheio de partes.
Um desejo partido,
Um toque dolorido,
Um fragmento esquecido.
Uma centelha pulsante,
Uma língua dormente,
Uma palavra ausente.
Uma ação tardia,
Uma carta angustia,
Uma metáfora vazia.
A dor latente em cada parte,
A bússola desvairada em cada esquina,
O todo perdido em partes,
As partes prostradas no chão.
Partes assimétricas,
Partes disformes,
Partes justapostas.
O Destino estilhaçado em tantas partes,
O todo diluído em partes,
O coração em pequenos retalhos,
Lábios cortados em muitas partes.
As partes soltas como pétalas,
As partes diluídas como lágrimas,
As partes pisadas e amordaçadas,
Atiradas a esmo dentro do todo.
Tantas partes que compõe a vida,
Algumas partes que nunca morrerão.
Um comentário:
Realmente, a vida é uma eterna busca pela parte que nos falta. Parabéns ao Autor
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