terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Flores do Aquário


Quando o silêncio falar por si e sem a intervenção de ventríloquos,
Talvez tudo possa a ser sanado de maneira menos estúpida e hostil,
Uma réstia de esperança que possa resultar uma forma menos mecânica,
Resgatar algum nível de sensibilidade nos braços do abismo.


No labirinto de metáforas ausentes e áspera concretude,
As vítreas paredes são diminutas, pétreas e secas,
Os ombros vencidos pelo sabor da areia e do sal,
Aporte malogro de pústulas, inquietações e náuseas.


Quem teme o futuro,
Não vive o presente,
Ilude-se com o passado,
Fiel hóspede do aquário.


Quem ejacula em demasia veneno e rapinagem,
Pode se tornar tão previsível quanto o pôr-do-sol,
O pragmatismo monocromático do cotidiano,
Cercado de redundâncias por todos os lados.


Segue o que é limitado, tosco e presumível,
A emoção incontida num carimbo burocrático,
Mentiras escarradas com fel a serem louvadas,
O senso-comum que distorce e contamina.


Os dias se arrastam no interior do confinamento,
Reclusas, as palavras obedecem ao toque de recolher,
O vazio toma uma dimensão ampliada dentro da redoma,
Os sentimentos ficam machucados, lacrados e tolhidos.


A cela de vidro vai além de uma pálida caricatura,
Suas paredes dizem muito mais do que possam aparentar,
Deixam cicatrizes subcutâneas e respingos na alma,
Chagas invisíveis que coabitam o sabor do humor.


Quantas imagens foram tingidas a ferro quente,
O cheiro de pólvora seca que brotou do gatilho inexato do revólver,
Não se encontra uma definição para a ansiedade,
Apenas a insólita dor para transpor o imponderável.


Qual batalha se deseja guerrear?
Quem se prontifica a escolher a própria missão?
Ilusão, fracasso ou destino... Redoma de vidro.
A pele enrijece e o corpo é entregue ao vento.


Há dias que apenas desejamos um cálice de Paz,
Sangue embriagado para suportar o cárcere à revelia,
O azedume aromático das flores de acrílico,
Indecifráveis fac-símiles de mensagens do aquário.

Um comentário:

Op Diogo disse...

Muito bonito.
Seguindo o pensamento so nos
Restam duas escolhas, viver como meros
Peixes que aceitam o aquário, ou usar
Um pouco desta inteligência humana, para
Perfurar este vidro que nos aprisionam
A questão e que se escolhermos a segunda
Não seremos mais do que peixes fora d’água.