quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Em silêncio... (Canção para um Amor Maior)


“O teu silêncio é uma nau com todas as velas pandas...
Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso...
E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas
Com que finjo mais alto e ao pé de qualquer paraíso...”
(Fernando Pessoa)



Em silêncio, estou a pensar
sobre tudo que rodeia meu cerne:
angústias e aflições,
temores e esperanças,
um microcosmo desfalecido.


Em silêncio, sinto o valor dos desejos
tangíveis a minha mão
deslizando pelos meus dedos,
como lava incandescente
incinerando minha alma.


Em silêncio, sufoco o latejar da dor
batendo deliberadamente em meu peito
o triunfar da melancolia
permeia o meu vazio ser,
assolando meu coração.


Em silêncio, o fino aço de sua mordaz apatia
delineia sobre o meu pulso marcas
escorrendo meu vital líquido,
liqüefazendo-me a cada instante
que Você povoa a minha mente.


Em silêncio, numa manjedoura escuridão
procuro incessantemente pelo brilho de seu olhos
luz que meu coração deixou-se seduzir
caminhos de tempestuosidades inegáveis
rios de desolação em profundas turbulências.


Em silêncio, sinto saudade do beijo
que nunca tive oportunidade de lhe dar,
perdido em desertos escaldantes
confesso a angustiada espera
pelos nuances do oásis lábios seus.


Em silêncio, fico a imaginar
se seu Amor existe,
se não é apenas um infeliz palpite
ensejo que até a Lua acredite
mas, até agora, tudo é tão triste!...


Em silêncio, embriago-me sem cessar
em delírios subjacentes,
incertezas mórbidas,
um penar inaudível
como o ressurgir de mais um dia acinzentado.


Em silêncio, é preciso ser
mais rápido que a fugaz luz
para vencer a solidão de me conduz
procurando esquecer o semblante que seduz
o brilho opaco que sua ausência produz.


Em silêncio, malogrado estou
pelas vãs tentativas de lhe alcançar.
Ah, imponderável Amor, musa desta insipiente toada
circunavego em mares indissolúveis
preso pelas veleidades incessantes deste teu olhar,
desvairar meio de lhe amar!


Em silêncio, temo em acordar
e pensar que tudo pode ser fantasia,
devaneios de um lírico desbotar
como a pétala de uma rosa caída ao relento
impulsionada pela dor de um severo vento,
silenciosamente pairando no chão a desencantar.


Em silêncio,
acendo parafina,
teço uma prece,
fecho meu corpo,
limito a minha voz,
aprumo minhas mãos
pedindo ao Criador que me abandonou
o sublimar de um pequeno Amor
deste seu adiabático coração,
acendendo um vil lampejo
nas trevas desta ingrata solidão!


Em silêncio,
estou a calar,
estou a naufragar!
Mas não importa,
nada, nada importa!
Apenas quero lhe ajudar,
quero que a felicidade sempre sorria para Você!
Assim como o meu desejo
que sorrias para mim!
Neste instante,
a tristeza há de cansar...
Cansado estou eu!...
Cansado meu coração está...


Em silêncio,
busco em pensamentos
perguntas sem respostas,
dores em afagos,
pranto sem lágrimas...
Quais são as palavras
que alvejam o seu coração?
Qual é o mistério
que tenho que fazer velar
para poder mais lhe agradar?
Quanto tenho que silenciar
para que possa me ouvir?
O que preciso fazer
para que seu sorriso seja apenas de felicidade,
uma singela felicidade,
que lhe faça realmente feliz?


Em silêncio,
quero gritar bem alto
para que todos possam sentir meu clamar
e saber que é possível ouvir
tudo o que tenho para dizer...
Desta forma, Você também ouvirá:
Olha, não é preciso esforço.
tão pouco sacrifício,
apenas deixe-se ouvir,
ouça a si mesma...
Ouça!...
Ouça as palavras que silenciosamente
procuro transmitir!
Ouça o meu silêncio,
que em silêncio procuro lhe dizer:
Deixe-me tocá-la sem temor...


Em silêncio, meu desejo é sempre estar com Você!
Minha alegria é sempre quando posso lhe ver,
minha tristeza é quando seus olhos
se ausenta de meus olhos,
meu devaneio maior é o encontro se seus lábios
com os meus lábios...
Minha fobia maior é quando tudo apagar
o meu faz-de-conta terminar
e nunca mais lhe encontrar...


Ouça o silêncio de quem sempre lhe amou!..
Em silêncio!...

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