Quando as palavras findam,
Um vazio extensível acampa a retina,
O frio que assolava as madrugada de inverno,
Presenteia com a sua severidade em dias de Sol a pino.
Tanta calmaria não faz renegar a verdadeira face,
Dentro do espaço circunscrito dos anseios,
Pulsa a intensa sinergia da constrição,
Noite e dia, pensamentos vagam sem morada.
O avesso do vazio é a profundidade dos sentidos,
A febre que se perde em insensata aversão,
Tão súbito quanto o cair de uma tempestade,
A chuva de granizo que fortifica tanta ansiedade.
O avesso do Amor é a indiferença,
Jazigo das palavras fragmentadas e inertes,
Interrompe-se o zelo dos olhos unidos em sintonia,
Ampliam-se as margens da lacônica distância.
O avesso do sonho é a treva,
Lateja no peito uma mácula de profunda dor,
Atinge na derme um corte hostil,
Sangue em pequenas gotas de um rio de indiferença.
O avesso da música é o estrondo,
Que zune a toda hora e em cada pesadelo,
Que não permite o trafegar de um sono mais tranqüilo,
Fiel marca-passo da insônia.
O avesso da alegria é a tragédia,
Sela a alegria contagiante dos lábios,
Nutre com pavor os dias de expectativa,
Ceifa sem dolo as mãos unidas em pranto.
O avesso da liberdade é o cárcere,
Trancafiado na jaula da apatia dos antigos sentimentos da pele,
O grito que não ecoa entre as montanhas da inquietude,
A privação dos desejos contidos no chão tão fértil das mãos atadas.
O avesso do sexo é a castração,
Interrompe o potencial do desejo,
O clímax tão perfeito é deixado do outro lado da ponte,
O sabor da saudade sedenta e morta na boca.
O avesso da notícia é o silêncio,
Prisioneira do fardo das horas,
Castigada pelas veleidades do medo,
Cansada da luz que incomoda na escuridão.
O avesso de Quixote é Pilatos,
A labuta do cavalheiro tangido pelas ilusões e assombrações,
A nefasta presença da covardia imersa na bacia d´água,
Os moinhos de vento vão além de meras abstrações do imaginário.
O avesso da terra é o pântano,
Pés deslizando no ópio das angústias,
O segredo da vida cedendo a liberdade para o lamento,
Os dias tristes sendo alimentados à exaustão.
O avesso da esperança é o adiamento,
Cansando os nervos e não cicatrizando as batalhas,
A estrada das lágrimas avança quilômetros a cada recuo,
Os caminhos cruzados se ampliam na luta diária da vitória interditada.
O avesso da hora é a morte,
Sinalizando o limite da ação na palma do desconforto,
O farol sinalizando o fim da viagem,
O céu carregado de fel desabando de tanta frustração.
O avesso do avesso,
É a manutenção da perplexidade exercida pelo status quo sentimental,
Quando o orgulho ingênuo domina o clamor dos lábios,
E paira no ar, a derrota fratricida de corações atados pelos uivos da muralha.
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