Espaço dedicado à análise, reflexão e crítica dos enlaces, desarranjos e autofagias do homem (i)material e o desencanto do mundo contemporâneo.
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Espinhos Selvagens (Carta para Lugar Algum)
Cai uma tempestade sem piedade,
Rios d´água em curso instável,
Paredes líquidas se elevam como muralhas,
Aquartelados, seguimos a vida como incipientes autômatos.
A replicação dos medos conhecidos,
A submissão aos anseios desconhecidos,
Tudo bem regido às velhas premissas,
A reprodução da artificialidade da vida.
Fingindo, fingimos viver,
Cambaleantes, cantamos uma canção de ninar,
Ninguém dorme sem colher alguns pesadelos,
Ninguém quer ser incomodado da hibernação dentro do casulo.
Sonhos, quimeras são quimeras,
Beijando com Paixão o arame farpado,
Lábios escorrem gotas de sangue,
Pelo canto da boca, pelo canto dos olhos.
Quanta luz pode atravessar sem resvalar,
Através das frágeis fendas da janela,
Rompendo a típica monotonia das trevas,
O altar dos lábios cerrados.
Paz. Qual Paz é possível na alcova dos sentidos?
Imerso no mar ou preso na deserção no deserto,
A voluntariedade dos atos inconseqüentes,
A frígida procissão das noites fragmentadas.
Como chegar no alto de todas as coisas?
Ter a noção exata de tudo ao redor,
Decifrar os mistérios da imaterialidade,
Dar segurança às mãos trêmulas da amada?
O que somos? Que Diabos seremos para o futuro?
Ser ou Nada? Quando uma ave sobrevoa o céu,
Aquela paisagem monotemática fecunda seus olhos,
Por que nos matamos com abissal crueldade?
Seja na porta de um fétido meretrício,
Seja no fundo noir de um restaurante dos Jardins,
Quais são as vidas que tem algum valor?
Quem predefine quem vive ou quem não mais respira?
Segue o canto, segue o pranto,
A escada segue por inúmeros degraus,
A boca desértica embriagada de perguntas sem abrigo,
Não há Paz amotinada em castelos.
A vontade petrificada,
O desejo sucumbido,
A vitória assassinada,
O sangue jorrado no asfalto.
Atropelam-se as dores e corrompe-se a lealdade,
Estilhaços de vidro açoitam o que ainda resta de alguns amores,
Matam-se grânulos esperançosos no cativeiro,
A vida como pastagem em espinhos selvagens.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário