domingo, 26 de outubro de 2008

Transitoriedade


Tudo passa nesta vida sem freios,
Os ponteiros circundando o perímetro do relógio,
O Sol que translada o horizonte,
A chuva que lava o sangue no asfalto.


Correr de um lado para outro,
Sem uma precisa direção,
A vela desfraldada que guia um barco,
Os caminhos circulares da agonia.


O pião que gira sobre seu próprio eixo,
As mentiras que entulham gavetas,
Os pêlos que crescem pelo corpo,
A paralisia que domina as pernas.


A velocidade que atropela dos acontecimentos,
A insegurança dos dias vencidos,
A falsidade dos sorrisos amarelos,
Tanta canalhice exposta nos jornais.


O cavalo que galga mancando até o disco final,
A barriga que ronca a espera de um resto de bóia,
As pétalas espalhadas pelos ventos por todo o corredor,
O drama sem o esperado final feliz.


O olhar diante do espelho,
As rugas preenchendo os espaços,
As mãos cada vez mais trêmulas,
A imprecisão sensível dos sentidos.


A guerra prolongada sem final à vista,
As execuções sumárias sem significado,
A banalidade do mal enfileirando corpos,
A trepada burocrática entre infiéis desconhecidos.


A angústia perdida das horas,
Percorre irradiante por toda a espinha dorsal,
O frio que gradativamente gela o estômago,
Os cortes à esmo sobre a carne que não sangra.


Os papéis amassados portadores de rascunhos inúteis,
O grito silenciado do estupro consentido,
Os dentes soltos deslizando pelo chão,
A adaga que penetra o intestino.


Transita tanto tempo,
Que ninguém se dá conta,
A vida que voa, já se foi,
A vida que hesita sempre mergulha sepultada.


Lábios castrados como fagulhas imersos no formigueiro,
Os insetos que sobrevoam o seu prato,
Os delírios dionisíacos antes do suicídio,
A foice que se transforma em arado no campo dos mortos.


As palavras carregadas de dores indescritíveis,
A indiferença perante os sentimentos,
O tempo que pulveriza sem sobrar nada ao redor,
O Amor que pulsava latente, cai e estagna.

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