terça-feira, 14 de outubro de 2008

Vendaval de Areia


Tempo nublado inundado de um vazio atemporal,
Manhã desperta com sonolência recalcada,
Dentro dos tênues limites da fragilidade humana,
Todas as palavras não traduzem com exatidão um sentimento.


De tanto incitar o desejo,
As mãos sucumbiram vazias vagando areia pelos flancos,
Diante de um deserto frio que enlaçou os dedos,
Nada que reluz tem algum significado.


A lembrança é o mecanismo mais certeiro,
Uma máquina infalível para a tortura,
Ainda regurgita alguma sobrevida material daquelas concepções vivenciadas,
Uma sangria que continua a desatar como um longo vendaval.


Chega a noite e não dura nada além que um parco dia,
A plausibilidade humilde das palavras,
O silêncio fúnebre do cárcere,
A fuga hostil sem remorso.


Há um sentimento atávico muito difícil de lidar,
De carregar perante os dias,
Tempo o qual pouco se sabe,
Da distância que reina em nossas vidas.


Da areia que se pulverizou um castelo,
Somente a masmorra se tornou cristalina,
Pouco se sabe de tamanha evaporação,
E nenhuma novidade foi exibida nas manchetes de jornais.


O desejo é uma sensação tola,
Queremos o que não podemos,
Ansiamos o que está privado das mãos,
E morremos sem ao menos sabermos alguma ilícita razão.


Delegamos nossas alegrias ao compartilhar de dedos,
Com os anéis vão-se embora tantas coisas,
A dor que aqui foi armazenada,
É a mesma dor que não permito exalar perante o cotidiano.


Morada do Sol e as cores sem iluminação,
Estrada desértica murada por labaredas incandescentes,
São poucas as luzes que realmente mostrem algum caminho,
São turvas e incompletas todas as direções mais significativas.


Há dias que queremos apagar da pele,
Há momentos que não merecem registros na agenda,
Rabisco com um lápis alguns traços sem maiores pretensões,
Nada passa tranqüilo sem ao menos sentir uma leve arritmia.


Finjo teimar em não querer o que sempre ousei desejar,
Mas insisto na teimosia em ainda dizer,
Não sei em qual constelação onde se escondeu aquele sorriso,
Sei que de tudo ocorrido, agora restaram apenas vestígios de versos.

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