Para tentar decifrar o passado,
E sentir que o futuro é uma incógnita,
Sem nenhuma luz por perto.
Aqueles lábios doces e agora ocultos,
Presos sem piedade com arame farpado,
Unidos pela severidade da angústia,
No tempo onde não há vencedores.
Há tantos caminhos escritos com giz e carvão,
Sobre a superfície irregular do asfalto,
Nenhuma novidade é revelada,
Talvez algumas memórias para serem pranteadas à noite.
A estrada segue sem levar à alguma parte conhecida,
A obscuridade se mistura com a obsolescência,
O descarte imediato e tolo da vida,
No jogo insensato da solidão a dois.
Com quantos maculados abatimentos,
Se faz a sobriedade dos dias em tons cinzas?
O colorido foi deixando de lado de maneira tão peremptória,
Mas algumas tonalidades pastéis resistem nas adiabáticas paredes.
De relance observo o relógio fixo ao alto,
A memória dispara como um filme ao contrário,
Seis da tarde e tudo que não gostaria de sentir,
É o que estou sentindo neste momento.
Seis da tarde e a poesia trafega sem luzes,
Que acompanha sem dar muitos sinais,
Tantas palavras a serem relatadas,
Nenhuma sonoridade se mostra presente.
Seis da tarde e daria meu mundo pelo seu sorriso,
Que fosse gratuito, terno e suave,
Transmitindo a Paz e a segurança tão apartada,
Tudo para alcançar um longo beijo de afeto.
Seis da tarde e o Sol querendo se deitar,
A luminosidade clareia o início da noite,
O silêncio é o sal que violenta minhas terras,
A Paz destronada do nosso labirinto.
Seis da tarde e desconheço o paradeiro dos seus passos,
Queria poder cortejar seus olhos,
Porém a distância impõem sôfregos obstáculos,
A secura segue intacta perante meus dedos.
Seis da tarde e começa a cair uma fina garoa,
Espero que as águas não molhem tanto suas vestes,
O frio talvez lhe traga algum desconforto,
Neste momento, poderia secar seu corpo com meus lábios.
Seis da tarde e tudo continua igual,
A pilha de livros e o jornal de domingo,
Papéis divorciados por todos os lados,
Atinando a saudade perdida irrigada de tanto desejo.
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