sábado, 11 de outubro de 2008

Tamponamento (Vocábulos no Sótão)



As palavras caladas são as paredes do Inferno!

Frias, ásperas e ficam escondidas no infinito fundo da gaveta,

Prisioneiras das masmorras do esquecimento,

Tolhidas de qualquer possibilidade de alforria.



Prossegue então aquele enferrujado joguete,

Onde as palavras são lançadas na superfície de um tabuleiro,

Perdidas e sem nenhuma idéia de regras ou mandamentos eclesiásticos,

Participam de uma maneira que não lhe fazem o menor sentido.



As palavras nunca ditas são atiradas para o imaginário do interlocutor,

São empilhadas desordenadamente na garganta,

Como entulhos inorgânicos infectando um terreno baldio,

Vigiadas por olhares atentos de moscas e urubus.



As palavras retiradas bruscamente do berço,

Ficam coradas de tanto prantearem,

Porém seus caprichos nunca são permitidos,

E inocentemente elas se recolhem debaixo do tapete.



As palavras doloridas como nódulos pelo corpo,

Sinais de destempero chagásico e metástase fulminante,

Moribundas, elas tropeçam pelos corredores,

E voltam abatidas para o cárcere do leito.



Na jaula hostil do cotidiano imerso em perplexidade,

Os vocábulos sobrevivem atados à claustrofobia,

Não há registro de algum feixe de luz ao redor,

Tudo é turvo, seco e seduzido para o vácuo.



As palavras silenciadas são hóspedes de tristes gaiolas douradas,

Algum serviço de quarto e sem direito à internet,

As toalhas mesmo ensopadas, não são trocadas,

E as camareiras são proibidas de emitirem alguma expressão verbal.



Há tanto sangramento subcutâneo,

No engaiolamento servil das palavras,

Cortes profundos que eclodem ricos de plaquetas,

Escorrem lentamente o líquido rubro pela ponta dos dedos.



Os vocábulos presos entre os dentes,

A língua que machuca as palavras,

Açoita violentamente com um rastro de gilete na ponta,

Sangrando qualquer monossílaba que teimar cruzar a fronteira.



No tempo em que as palavras nunca são reveladas,

Os presídios ficam amontoados sem nenhuma esperança de liberdade,

Nada poderia ser exalado parcimoniosamente sem ecoar nenhuma fonte sonora,

Na profundidade da noite, as palavras jazem silenciosamente no canto da boca.

Nenhum comentário: