A saudade de quem nunca parte,
Fica confinada nas entranhas da carne,
Não é visível ou possível de ser tocada,
Sobrevive em uma sintonia angustiante.
Na claridade de um sábado à tarde,
Ou no vazio plúmbeo de uma manhã de domingo,
A saudade martela continuamente,
O locus vivendi do olhar no deserto.
Ressoam os dias e as horas castradas,
Nada parece transitar com o mesmo sabor de outrora,
A ausência batendo como tambores numa procissão,
O mapa perdido dos encantos de um sorriso.
Lamenta-se a distância,
Com a mesma inquietude do fracionamento do afeto,
A luta insana entre o pragmatismo e o desejo,
Há uma pilha de mortos espalhados pelo chão.
O caminho das pedras,
A rebelião no mar,
Nuvens de fel no céu,
Aqui embaixo, o ar se tornou turvo e áspero.
As horas que passam pelos ponteiros,
A cama desarrumada e solitária,
Os objetos pendentes nas prateleiras,
O mundo que era líquido se evapora.
As certezas das incertezas prosseguem sem rumo,
Nada se sabe o suficiente para virar realidade,
A saudade é um bloco de concreto despetalando do alto de um edifício,
Qualquer bobagem é mera válvula de escape.
Pelas frestas da janela emana alguma luz,
Mas nada clareia o que seria preciso iluminar,
Ouvidos tamponados e os lábios costurados,
A saudade é um retrato amarelado na parede.
Quanta secura nos dias,
Quem segura as pontas?
Os caminhos são turvos e soltos,
Soltos até demais e que mergulham para um insípido vácuo.
O sono chega de leve,
Manso e sem perspectiva de tranqüilidade,
O refúgio básico no sorvedouro da estrada,
A Paz nunca selada e sem vencedores.
Um comentário:
Belo seu poema! Admiro sua facilidade de fazer comparações que levam a entender, nas suas entrelinhas, uma maneira de relatar veladamente a existência de um amor eterno e verdadeiro mas de uma fragilidade absoluta.
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