segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Viscosidade (Amálgama por Contradição)


As palavras e as coisas são mundos distintos,
Quase imiscível como água e óleo?
Seriam dois universos antagônicos entre fogo e gelo,
Uma amálgama por contradição?



As palavras calejadas na garganta,
As coisas reificadas pelo desejo,
O corte profundo sem direção,
O olhar perdido em campo aberto.



As palavras ditas pelo céu da boca,
As coisas cheias de privações,
A porta fechada selando a essência,
O medo contaminando os poros.



As palavras mordidas de tanto receio,
As coisas fechadas e trêmulas,
A burla dos próprios anseios,
Mentiras petrificadas na alma.



As palavras pisadas dentro de um pilão,
As coisas moldadas com gesso fino,
A ventania que desaba sonhos,
A morte que nunca pede carona.



As palavras soltas na boca banguela,
As coisas pobres e secas,
A vida apátrida sem significado,
Os espinhos machucando os pés.



As palavras feitas para sangrarem,
As coisas atiradas pela janela,
O asfalto cheio de deformidade,
O trem descarrilado rumando para um precipício.



As palavras perversas que atingem com maldade,
As coisas fincadas no coração,
Tantas mentiras corroídas como metal enferrujado,
Tanta vida deixada para trás.



As palavras ingratas e disformes,
As coisas feitas sem ponderação,
A vida tocada como guizo de animais,
Nada paira verticalmente sobre o chão molhado.



As palavras caem no esquecimento,
Com a mesma velocidade das coisas feitas pelas mãos,
A vida efêmera deixa tudo líquido,
De tamanha ausência, pouco sobra para ser colocado no lugar.



As palavras que atormentam o coração,
Caminham paralelamente com as coisas feitas para suscitarem mágoas,
A mácula sentida castiga a memória,
O tempo se encarrega das feridas espalhadas pelo corpo.

Nenhum comentário: