domingo, 12 de agosto de 2007

Janela Vazia


Mais um dia que se esvai...
Sei que o Amor perdeu.
Já não é novidade neste caminho insólito,
Olhando os fragmentos ao redor,
É a única certeza transparente.

Cansei de belos lábios fomentadores de falsas promessas.
A noite obscurece todos os seres vagantes,
Não há distinção entre o Bem e o Mal,
Apenas o vácuo reina em absoluta harmonia.
O oxigênio sufoca tua pálida alma,
E o medo pueril é o pontificado de tua estúpida teimosia.

Se por um dia fosses o meu olhar,
Ficarias comigo até o amanhecer.
Se por um momento sentisses o meu desejo,
Possivelmente ficarias eternizada ao lado meu.
Se permitisses internalizar o meu corpo,
Não se sentirias tão solitária agora.
Se as tuas mãos ocupassem o lugar das minhas,
Tuas lágrimas não deslizariam perdidamente a beira do precipício,
Se minhas palavras fossem realmente digeridas pela tua boca,
Não sentirias frio nas longas madrugadas vazias.
Se as névoas da insensatez evaporassem,
Viveria um dia a mais somente para ficar junto ao teu corpo.

Ao longe, sons de trombetas agonizantes ecoam,
São os anjos anunciando a abertura dos portais,
Na estrada da discórdia rasteja a saudade...
Não adianta abafar o silêncio com as mãos,
É o nosso Apocalipse a conta-gotas como triunfo de tua apatia.
Silenciaram as canções que afagavam corações,
Rasgaste as palavras recitadas a exaustão,
Há uma tenaz amargura em meus lábios,
Triste olhar de teu vulto na memória.

Com medo da vida,
Fechaste a porta de acesso,
Tua janela é um incolor cartão postal do deserto,
Não há vitória entre nossos dedos,
Se sentisses por um breve momento os sinais da alma,
Entenderias o azedume da absurda tempestade,
Alimento voraz da separação...

Ah, menina de pouca fé...
Pavimentaste com os pés a trilha do desafeto,
Escondeste na penumbra do silêncio,
Acreditaste em uivos de falsos cordeiros,
Atiraste pela janela a chave do labirinto.

E para todas tuas lágrimas,
Teus olhos marejados,
Ainda não seria o bastante...
Para tanto amor,
Tão grande dissabor.

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