segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Longe, tão perto!


“If I could stay...
Then the night give you up
Stay...
and the day would keep its trust
Stay...
and the night would be enough”

( Bono Vox, in “Stay(Faraway, so close!)”)


Alta madrugada,
Vejo Você cansada!
O trabalho não lhe permite parar,
Sua rotina incessante lhe induz a estafa,
Suas pálpebras teimam não se encontrarem,
Suas pernas são estacas que procuram não deixá-la ceder,
E em seus lábios a sensação acre do tédio...

Luzes rarefeitas, dia exaustivo...
Sua mente transforma-se num caleidoscópio sem brilho,
A depressão lhe causa pavor,
Você procura se manter calma,
Mas sabe que não é real,
O frio da noite lhe deixa resfriada,
Busca se aquecer numa blusa de lã,
Mas o frio é muito maior,
Não se aquece com vestimentas,
A dor de um passado convulsivo lhe deixou cicatrizes,
Você se deixa abater facilmente,
A monotonia lhe traz alienação,
Cansada!... Não sabe por onde ir
E a sensação da solidão enegrece seus sentimentos.

Luz verde irradiada dos seus olhos,
Você se encontra cercada por muralhas,
Não sabe se é vítima ou culpada,
Ao seu redor a pressão para que cumpra o dever,
Mas a quem Você deve?
Acostumava a chorar nas horas difíceis,
Suas lágrimas deslizavam sobre seu rosto
Como lâminas polidas de diamante...
Suas mãos não tremiam por cansaço,
Era o pânico que a faziam movimentarem,
Seu coração não era um músculo cardíaco
Era a sua alma latejando em dor.

Vejo Você sem que possa saber,
De um lado a outro eu sigo os seus passos,
Você não me vê,
E nem acredita que eu existo!
E quando precisa desabafar
Não percebe que estou na sua frente...
Aparo uma lágrima solitária percorrida do seu rosto,
Mas, Você pensa que foi a brisa que a secou...
Você, vencida pela fadiga, adormece...
Levemente afago seus pensamentos infortúnios,
Minha presença não lhe chama atenção,
Repouso minha mão sobre a sua suave mão,
Mas percebo que ela está fria
Como o medo em sua alma...
Eu procuro lhe tocar,
Meus dedos não lhe aquecem,
Não sente o calor de minha devoção,
Para Você não passo uma entidade adiabática...
Minhas palavras não lhe traz iluminação,
Parece não entender o meu idioma,
Faço contorcionismo para expressar minha voz imaterial,
Mas, tudo é vão!...

Longe, tão perto!
Distante de mim, distante do mundo!
Longe, longe de tudo!
Tão perto de poder lhe ajudar!...
Você procura se esconder da vida
Ou se acomodar para não mais machucar o coração,
O calabouço em que vive lhe deixa assim,
Num cárcere preso às angústias,
Os demônios que criou lhe aterrorizam
E, então Você fecha os olhos pensando que tudo passará...
Mas, está errada!...
Desta maneira seus temores não passam...
A menos que queira demonstrar disposição para enfrentá-los.

Você pode decidir o que quiser,
Ir para onde jamais foi,
Caminhar por onde nunca trilhou,
Basta tentar!...
Se eu pudesse ficar,
Minha mão entrelaçada a sua,
Um novo percurso seguiremos
Sempre adiante, sempre confiantes...

E quando Você cair, eu poderia lhe amparar,
E quando Você ouvir, eu poderia lhe acalmar,
E quando Você chorar, eu poderia o seu pranto enxugar...

Se eu pudesse ficar,
Uma chance teria para lhe mostrar
O quanto poderia lhe ajudar
A não mais entristecer,
A não mais lacrimejar,
A não mais sofrer...

E quando Você sofre,
Eu sofro duas vezes:
A primeira é pela dor que sente
E a segunda é pela distância que me impõem
Impedindo que eu possa lhe ajudar...

Se me deixasse ficar,
Então a noite não mais assustaria,
E eu ajudaria a lhe levantar...
Fique!... Confie em mim e mantenha a sua confiança!
Fique!... Com o meu espírito que lhe entrego!
Fique!... Com o caráter de quem possa salvá-la do campo de batalha!
Fique!
Aceite o meu amor e conceda-me uma chance!

Na parede o relógio diz que já passa das três,
Ainda não é manhã,
Uma prece vem em minha boca,
Devo recitar ?
E sem poder lhe sentir,
Tudo é silêncio,
Adormecida estão as parcas almas que encontraram um descanso final,
A maioria vaga inaudível sem destino, sem paraíso...
Aqui estou eu buscando pelos seus olhos,
E ao seu ouvido balbuciar: “Sou seu anjo! Vim lhe ajudar!
Você ouve um estrondo,
Apenas uma seca explosão,
Como se um anjo despencasse do céu...

Apenas um pálido ruído,
Como se um anjo beijasse a lona...
Como um lutador vencido,
Como uma derrota injusta,
Como o término de uma guerra sem vencedores...

Um anjo cai e perece!...
E Você chora,
Não sabendo o motivo
Da tamanha dor!
Mas sente que a vida lhe passa tão fugaz,
Quanto os seus sonhos de menina.

Um anjo cai e perece!...
Mas seu sonho permanece,
O sonho que um dia a felicidade lhe encontrar!...
E a sua alma então não descansará,
Não entregará o corpo ao solo úmido,
Enquanto esta missão não vingar!...

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