Espaço dedicado à análise, reflexão e crítica dos enlaces, desarranjos e autofagias do homem (i)material e o desencanto do mundo contemporâneo.
sexta-feira, 24 de agosto de 2007
O teu silêncio é deserto
O teu silêncio se conserva em âmbar,
Como grânulos a espera da irradiação solar,
Para desabrochar em terra firme.
O teu silêncio calado são folhas mortas ao chão,
Transformando-se em lama logo nas primeiras gotas de chuva,
Fertilizando a ansiedade e a solidão.
O teu silêncio é tortura,
Amplifica a saudade,
Aborta a carne em desejo.
O teu silêncio é dor,
Na nossa pele o dissabor da ausência,
Que alonga a estrada da distância.
O teu silêncio é bronze,
Sombria luz do desconforto,
Não traduz a tua verdadeira essência.
O teu silêncio é medo,
Eterniza fantasmas em água morna,
Envaidece uma lacônica canção.
O teu silêncio é acomodação,
Destoa o coração e enegrece os olhos,
Seca a sede mútua da saliva.
O teu silêncio é provocação,
Nega o beijo que outrora foram cedidos,
Esconde abraços e corações em união.
O teu silêncio é punição,
Priva dois corações a pulsarem,
Mata em semente a emoção da vida.
O teu silêncio são lágrimas,
Que escorrem na solidão aguda da face,
Inundando nossas almas de inquietação e vazio.
O teu silêncio é mentira,
Que a dor procura te convencer,
Buscando fazer acreditar que o amor é um destino vazio.
O teu silêncio é lápida,
Soterra a esperança,
Assassina o emergir de uma nova página da história.
O teu silêncio é deserto,
Nega o passado e finge o presente,
Trêmula a pele com receio do futuro.
O teu silêncio é tristeza,
Corrompe a alegria,
Eclodindo chagas desvairadas na alma.
O teu silêncio é fuga,
Vidas paralelas, caminhos distantes.
Da diferenças das práticas a conjunção dos olhares.
O teu silêncio é distância de ti mesma,
Silencia a paixão,
Utilizas velhas artimanhas da solidão:
Mentiras para fingir conforto,
Desculpas para esconder o sentimento,
E tu colhes escondida a pequena gota de água deslizada na face.
Da profundeza de tua alma,
Estou a te buscar em silêncio.
Se queiras ser amada,
Não alimentes o temor.
Se queiras sair do vácuo,
Não permitas esconder-te em ostracismo.
Se queiras sair do silêncio,
Ecoas a luminescência da voz.
Se sentes saudades,
Afasta-te da indiferença.
Se sentes sozinha e indefesa,
Aproxima-te dos meus braços.
Mãos vazias,
Almas partidas,
Reféns indefesos,
Cercadas ferozmente
Por um melancólico silêncio.
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