domingo, 18 de maio de 2008

Flor do Asfalto


Flor da madrugada fria sem rumo,
Estrada guiada pelas veleidades da alma,
A meia-luz que trás um brilho tão opaco,
Qualquer canção remete ao seu semblante.


Flor do calendário que rememora saudades,
Lembranças de olhos tão pueris ofegantes,
A ansiedade como palavra de ordem,
Imperativa são as forças que oprime o coração.


Flor da trilha que não resta muito senão caminhar,
Um percurso deserto e sem surpresas,
As cores que outrora cintilava,
Tudo se tornou mais cinza na sua ausência.


Flor aturdida no ritmo constante do silêncio ensurdecedor,
As palmas das mãos ainda continuam vazias,
A escuridão noturna aflige e arde,
Atiça a angústia do desejo nunca satisfeito.


Flor do jardim arquitetado para seus olhos,
O mundo poderá ser mais simples do que aparenta,
Porém, suas pálpebras ainda adormecem,
Como um sonho contínuo movido à afasia.


Flor de minha alma prostrada ao vento,
Quero a flor mais bela para lhe ofertar,
De forte vermelho que clareia o seu chão,
Que traga a Paz necessária aos seus anseios.


Flor dos meus dias insones,
Palavras dormentes e interditadas na garganta,
Horizonte do desejo encarcerado e mordido,
A felicidade castrada que nunca é permitido voar além do tatame.


Flor de minha dor guardada,
Desabrochando num disforme espaço-limite,
A cada passo dado no longo percurso,
Veja, é tão curta a distância entre as pontas de nossos dedos!


Flor desabrigada de sua retina,
Prisão íntegra de si mesma,
Distância curvilínea dentre nossos olhos,
Flor dolorida que brota no leito do frio asfalto.

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