domingo, 4 de maio de 2008

Gota Rubra (Canção de uma Manhã Chuvosa)


Há uma gota de sangue em cada flor ofertada,
Que deixa um longo lastro de opressão,
Sabre o pulsar existencial de cada peito,
Tornando o ar cada vez mais rarefeito.


Há uma gota de sangue que se dilui nas águas de Maio,
O cair intermitente de um temporal quase sinfônico,
Cotidiano trafega soturnamente com uma frieza inóspita,
A saudade amplia-se como hematomas presente da alma.


Há uma gota de sangue em cada gesto ignorado,
Maculando a liberdade dos sentimentos em profusão,
Lacrando o grito suprimido no leito da garganta,
Na batalha travada contra a insensata espera.


Há uma gota de sangue nas vestes emaranhadas pelos nossos laços,
Que registra na certidão dos longos dias de destino,
Enegrecendo o ladrilho do sinuoso caminho,
Superando com brutalidade os laços entre os dedos.


Há uma gota de sangue mesclando vendavais inconstantes,
Dias de sofreguidão entre as sombras na labuta imaterial,
Como soldados marchando com seus capacetes para o combate,
Com o peito exposto para cada lança que perfura a derme.


Há uma gota de sangue na palma de suas mãos,
Com dedos lacrados imaginando que seria possível se esquivar da dor,
Atados no frio limítrofe da navalha de uma esperança inexata,
A busca pelo inútil refúgio contra todas as dores.


Há uma gota de sangue que dilui na longa tempestade,
Da janela é possível ouvir os pingos da chuva se liquefazer contra o alumínio,
Torrentes d´água ampliam-se a cada minuto,
Acinzentam-se os dias e abrem-se os poros latentes.


Há uma gota de sangue que clama por liberdade,
Contra os grilhões que enclausura nosso peito,
Levantando toda a espessa poeira que cega a retina,
Separando corpos em novas noites de penumbra.


Há uma gota de sangue em cada pesadelo voraz,
Eclipsando a visão tangida de pavor como um rolo compressor,
O inconsciente batendo ferozmente à porta,
Tantas angústias para tão pouca certeza.

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