Na noite dos afazeres soturnos,
Lá no alto, ronda em sigilo,
Como estivesse se escondendo,
Lua negra sem brilho.
Não concebe um lírico pesar,
Rompe as noites para um olhar introspectivo,
Desliza na cama sem encontrar abrigo,
Lua negra sem descanso.
Do leito, um formigueiro emerge nas pernas,
Um vazio lacônico sem explicação aparente,
Pressiona a cabeça sobre o travesseiro,
Lua negra cheia de ecos.
Uma agonia trazida por rompantes,
Bem e Mal se confundem sem nexo,
Alegria e tristeza se mesclam de maneira histriônica,
Lua negra sem rumo.
Na aparição dos dias sem claridade,
O claro se desvirtua no escuro,
Os olhos se fecham entre pálpebras,
Lua negra escondida atrás da porta.
O calor que não aquece toda a frieza regurgitada,
O calendário virando páginas à marteladas,
Os incômodos pensamentos são transeuntes que adentram a noite,
Lua negra que vive burlando o coração.
As palavras caídas ao chão,
Como folhas e gravetos secos no outono,
As mãos trêmulas que não acalma uma primavera,
Lua negra tateando no invisível.
Na noite dos olhos sem direção,
A solidão do Amor incontido,
As geleiras que falsificam a mítica auto-sustentação,
Lua negra sem paradeiro.
As palavras que são bloqueadas cegamente,
Sentinelas kamikazes que não permitem uma aproximação,
Cada vocábulo trancafiado sem tribunal,
Lua negra desnorteada de tamanha paralaxe.
No esquivo da saudade crua,
Na constante fuga marchada dentro de si,
Ouvidos congestionados de falsos humores,
Lua negra embriagada de digressões cutâneas.
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