sábado, 31 de dezembro de 2011

Querela



Na batalha etérea entre o Bem e o Mal,
A Maldade lambe os dedos com o suor e o sangue alheio,
A Bondade carrega o fardo de pregar o Amor,
Penar com o escárnio e a indiferença alheia.


A Maldade seduz, viola e corrompe,
Sob todas as formas, máculas e práticas,
A Bondade carrega consigo um fardo litúrgico,
Palavras sobreviventes de justiça, devoção e Paz.


Enquanto a Maldade tem o toque da destruição,
A Bondade conduz sua labuta com parcimônia,
Levar as trevas do caos em direção a Luz.


A ponte da Maldade se arrebenta no meio,
Somente a ponte ostensiva e sólida da Bondade,
Poderá acompanhar seus passos até o fim da jornada.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Adágios (Para Refletir e Viver um Novo Tempo)



Quem negocia objetos acredita que tudo é negociável, inclusive a Vida.

Quem faz escolhas deve saber que também é responsável por elas.

Quem se deixa ser usado pelo outro é tão cúmplice quando seu corruptor.

Quem se deixa ser usado também desejará usar o outro quando for possível e conveniente.

Quem compra uma pessoa acredita que pode comprar qualquer coisa até o dia que encontrará alguém que seja inegociável: daí seu corruptor desejará destruí-la.

Quem dorme com ratos acordará esmagado dentro de uma ratoeira.

Quem vive para comer alfafa somente aprenderá a distribuir coices. 

Quem coleciona objetos sempre desejará colecionar pessoas: para ele não existirá nenhuma distinção.

Quem mostra muito os dentes desejará deixar o lastro da mordida.

Quem brinca com fogo é incendiário.

Quem sempre viveu na mixórdia sentimental não compreende o valor e a grandeza da palavra “Amor”.

Quem silencia é conivente com a opressão.

Quem se deixa oprimir também é cúmplice do opressor ou é masoquista.

Quem torra o saco dos demais pedindo para liberar drogas herbáceas não sabe os verdadeiros efeitos alucinógenos da Paixão.

Quem cedo madruga acaba por ficar cochilando à tarde.

Quem balbucia o verbo “amar” esquece de compreender um segundo verbo: o “doar”.

A adolescência é um estágio que para muitos pode durar convenientemente até uns setenta anos.

Todos são iguais até o momento que um se levanta e mostra que o seu umbigo é maior que os demais.

Todo ser humano tem um preço, exceto aqueles que acham que sua vida vale bem além do que um punhado de bugigangas.

Todos querem conforto sem abrir mão da liberdade: o mundo é feito por ilusionistas para lograr ingênuos de plantão.

A mentira é uma verdade alternativa para acomodar a todos aqueles que adormeceram para a existência.

Diploma não transfere conhecimento, apenas acrescenta um quadro ilustrativo na parede.

A sexualidade é uma das mais duras matérias. Todos tagarelam sobre ela, mas poucos ousam a estudar suas lições.

Lei Lolita-Nabokov: Homens mais velhos adoram o fetiche das mulheres mais novas. Assim poderão sempre repetir os mesmos estragos que fizeram com as mulheres das suas idades contemporâneas.

Não existe uma inocência pura, mas uma apatia cúmplice.

É mais cômodo abraçar o precipício da mentira do que se defrontar com a luminescência da verdade.

A maldade é circunstancial e somente a bondade é perene.

A democracia juvenil é quando a estupidez da maioria imprime sua tirania contra a maturidade de uma minoria.

É mais cômodo cortar os pulsos do que desvencilhar dos laços.

O interesse das mulheres pelos canalhas é diretamente proporcional à viscosidade de suas mentiras.

Entre a barbárie e o Amor saiba muito bem em que lado você estará, pois a partir da sua essência interior que irá decidir na escolha.

Manejar uma arma é fácil, difícil é manejar a Arte do Amor.

O primeiro a mentir será o último a continuar mentindo.

Acima de tudo, os Maus são a maioria, mas a grandeza dos Bons prevalecerá pela intensidade, lealdade e a solidariedade dos seus ideais.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Flor do Amor

Quando o terreno do seu coração estiver deserto,
Procure arar o solo com energia e confiança,
Sedimente então uma pequena semente de esperança.
Regue um pouco com a água dos desejos.
 

Aguarde pelo tempo da paciente espera,
No livre caminhar dos acontecimentos,
Não intoxique com nenhum agrotóxico
Da deslealdade, egoísmo e apatia.


Deixe banhar na sombra fresca para que o Sol,
Não desidrate a paixão incontida,
Sem vitimar no calvário triste da despedida.


A semente desenvolverá as folhas e algumas flores da partilha,
Veremos nascer do solo frágil da solidão uma genuína flor,
Quem sabe poderemos até chamá-la de Amor.

Flor da Ausência



No jardim do desassossego
São tantas as quimeras que nos fazem sentir,
O corpo mecanicamente que embala numa certa frágil magia,
A palavra não dita, o toque ausente e a canção não tocada.



A saudade que desembrulha suas pétalas
Que se espalham pelos cantos,
A vontade quase descoberta,
No seio do querer sem o lastro do poder.



A distância que imprime um toque de azedume no canto da boca,
O desejo contido no silêncio de uma estrela,
A retina que tateia na vaga espera do não-existir.



O jardim soturno que assola o hiperespaço no vão entre os dedos,
Na noite de luzes, consumação e fogos de artifícios,
Nem todos os sorrisos serão de alegria.


quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Tristeza



Quando a Tristeza passar pela sua calçada,
Não se assuste ou tampouco seja solidária,
Simplesmente, cumprimente sem abraçá-la,
E deixe-a passar livremente...


Não vale a pena perder tempo com ela,
Afinal, o caminho é longo e cheio de curvas,
Abra um largo sorriso na face e prossiga.


Entre todos os tons entristecidos,
Prefira sempre os menos foscos e opacos.
Uma tarefa necessária da existência é buscar dar um colorido,
Que seja mais significativo e vibrante na Vida...


A vida tem seus caprichos no desequilíbrio da presença,
Quanto mais a distância agride a insólita saudade,
O pensamento se encarregará de atar as pontas perdidas.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Plenitude



Aquilo que se atinge sutilmente com a alma,
Nunca pela imposição mecânica do tato, do asco e da insensatez.


A fluidez libertária e plena dos sentidos,
Uma brisa fluida da madrugada quente de luar.


As palavras mais plenas são aquelas seladas,
Com a interdição de lábios alheios que afanam um beijo.


No limite, a plena certeza que tudo na vida,
É um caminho de reentrâncias e possibilidades.


Um tempo delimitado pelo medo,
Um prato cheio de esperança.
 

Uma sopa aquecida e temperada com o sal dos desejos,
Adicionado de um pedaço de pão amolecido pelas circunstâncias.


Sem maiores engodos, não ha mistério que dure a eternidade,
Viver é tornar-se pleno no caminho tangido entre os sonhos e o tempo.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Pulsar



A vida é o maior de todos os palcos,
Onde todas as emoções deverão ser sentidas plenamente.

Sem ocultar, desviar ou esconder,
Sinta apenas o prazer da alegria máxima do olhar.

Tantas são as singelas e pertinentes coisas ao redor,
Quais as razões para cultivar dores, usuras, mágoas e inúteis angustias?

Perdas, derrotas, acasos ou frustrações
Elementos para sentir, refletir e superar.

Entre o certo e o errado,
Aposte na vitória do bom senso e na sensibilidade.

Cultive a busca sempre necessária do espelho,
Existe uma diferença entre a imagem refletida e a imagem sentida.

A Natureza das coisas é toda a essência a ser descoberta,
Se o passado é fonte de história,
O presente é a possibilidade de realização.

E o futuro?...
Bem, o futuro deverá ser deixado para amanha,
A vida somente se realiza no presente.

domingo, 30 de outubro de 2011

Vestido de Noiva



Naquele quarto vazio se encontra o que não se deseja,
Alojado a sete chaves na inconsciência,
Toda a privação sofrida e a devastação da alma,
Nada é revelado na alcova dos sentidos.

Palavras corroídas pelos ácaros do tempo,
A promessa daquele sonho se incinerou sem pudores,
A caixa que se lacrou em segredo para sempre,
O ódio e a vingança sob a mesma lâmina embriagada de lágrima.

Um quarto marcado pelo silencio dos fatos,
Ninguém soube... Quem queria ousar saber?
A história se oculta na peleja dos seus atores,
O sorriso que enegreceu no cálice da boca.

Qual seria a verdade branca daquela cena?...
O quarto isolado acolhe triste combinação pictográfica,
Um vestido de noiva estilhaçado com fervor,
Uma carta manchada de rubra desilusão,
O amor traído pelas nuanças da vida,
Sob um corpo em decomposição de mulher.

sábado, 29 de outubro de 2011

Estrada (Sem Saída)




Quando o silêncio reina,
A negação castradora prevalece,
Nada mais urge gesticular,
As pontes se desmoronam.

Quando a palavra que não envolve,
A cama caprichosamente não acolhe,
Os corpos não evoluem como era de praxe,
Invariavelmente, o deserto é o destino.

Quando um se afasta,
Dois se perdem e o frio acolhe,
Cada um no seu antagônico caminho.
Fazendo poeira para cobrir os rastros.

Quando a indiferença escancara a porta,
Os sentimentos escorrem pelos poros,
O esquecimento se torna tão evidente,
É bom refletir tanta coercitiva ausência.

Em cada curva, o joguete de bobagens infantis,
Numa bacia de verdades obsoletas e vazias,
A história fica sempre impregnada no retrovisor,
Escorrendo como orvalho relembrando a cama desalinhada.

Aquele beijo com gosto áspero de algum fungicida,
Basta de apostar na carta viciada ou em qualquer prêmio frustrado,
Na madrugada do passado deixado na borda da estrada,
Lições que teimam em nunca serem aprendidas.

A paixão é um sutil jogo marcado,
Carece de participantes ativos e praticantes,
A vitória sorri para quem conhece suas regras,
Aos tolos e arrogantes sobram as querelas do alçapão.

Perdeu, perdeu!... A despedida sem bilhete de adeus,
Resta desejar não mais se arrepender,
Jogar no asfalto a lista das desculpas vazias,
Esquecer os velhos atalhos da volta.

Como um castelo de lâminas sobre o pulso,
A distância é o único elo que se mantém,
Se um dos lados quis escolher assim,
Certo ou errado... Quem sabe?

Os sentimentos serão pulverizados tão brevemente,
Fadados no término da escrita destes versos,
Em liberdade, o Amor não tem dono,
A excrescência é não saber amar.


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Autoengano (A Flor do Capital)



Num mundo estritamente de valor material,
Tudo se transforma em fúteis interesses imediatistas,
Um gesto de simples e insólito carinho,
Perde-se num oceano de inúteis e efêmeras banalidades.

 
No quarto escuro, a solidão e a agressividade,
Tomam os espaços dos laços de solidariedade,
A indiferença coabita com a violência,
Entre as mais simples relações humanas.


O riso histérico mostra seus os dentes podres,
Tirando galhofa da sinceridade de um sorriso brando,
As mãos se fecham sob o espelho de narciso,
E os braços são rispidamente cruzados.


O silencio reina totalitário,
Diante do mar de palavras aprisionadas,
Corpos flácidos, marcados e acuados,
São reféns de estruturas movidas pelo medo e a angustia.


“Time is money!” – diz o adágio da usura,
O inverso se faz mais presente ainda,
Quem dorme acorda atropelado,
Quem resiste é esquecido.


Partidos partidos numa farsesca opereta corruptora,
Política a la carte, manifestações atordoadas e ao gosto do freguês,
A democracia que produz ilusões, caricaturas e desigualdades,
Mercado simbólico que cria, reproduz e nunca sacia seus servidores.


Em sede febril, a boca oscila temerária,
Entre a secura e o fel corrosivo,
A natural trilha diária se transforma,
Inconscientemente na tortura cotidiana.


Há quem diga que as ideologias estão numa lápide,
Dentro de algum livro embolorado,
Na ante-sala de algum sanatório,
Aspirando ao que restou de pólvora seca.


O que triunfa sem maiores celeumas ou diplomacias,
Reduz-se na história vencedora que se diz meritória,
Todas as outras verdades são seladas,
Todas as outras mentiras são caladas.


A sensibilidade que restou é eclipsada,
Diante de uma bruta razão mecânica,
Quando o Amor se perde na estrada da ignorância,
Os instintos mais hostis florescem na lavoura de ervas daninhas.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Lascívia



Não castrar na boca o bálsamo dos viventes,
Não desejar se limitar dentro de um hiperespaço perdido,
O oásis é tão visivelmente raro como um vagante cometa.


O conforto pela proteção é tão indigesto quanto o próprio desconforto,
Não há segredos eternos, exceto os que são amplamente falsificados,
Tampouco existe algum ensinamento que não seja aprendido com a sensibilidade.


Pulsa febril no solo fértil na derme aromatizada,
O desejo se faz verdadeiro na latência da carne,
O jocoso fluído deslizante que enobrece uma árdua conquista,
Dedos delirantes que reproduzem uma arrítmica ansiedade.


Quando o corpo pede é sinal que a alma devora,
Que seja nutrida toda entrega plena e terna possível,
Diante do encontro ofertado pelo inverossímil destino,
Porque toda corte se faz majestosa no devido enlace dos corpos.

Cálice



Raras as fontes onde se é possível mergulhar
Com tanto ímpeto sem hesitar.

Não se pode agigantar gratuitamente o medo
Sob pena de sucumbir a ele.

Aguardar ser superado todo o anseio preliminar
Sem deixar um gosto ligeiramente acre nos lábios.
 
Aquilo que é velado,
Carece aderir a uma atmosfera mais libertária.

Para cada cálice embebido,
Que seja sorvido lentamente aflorando o desejo cutâneo.

Para cada gole ingerido,
Que seja sentido como se fosse exclusivamente o derradeiro.

Para cada vontade revelada, 
Que seja transgredido tudo aquilo que foi proibido,

Livre de toda culpa cravada na memória,
O céu da boca é onde desemboca um oceano de acontecimentos,

Melhor se afogar no cálice do desejo interditado, 
Que morrer na secura da ignorância autorizada.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Fantasias



Uma flor será sempre uma flor,
Um olhar será sempre um olhar,
Um toque será sempre um toque...

Até que se possa fazer de um simples gesto ou ação,
Um novo desenho ou uma quase invenção,
Com um novo sentido, com alguma empolgação.

Na incoerência reside a nódoa de pequenos deslizes sinceros,
Na verborragia tola há uma cesta de lúdicas bobagens patéticas,
Na hesitação é disparado o ato falho que discretamente incrimina.

A vida se desnuda como resultado inevitável,
De símbolos históricos, mecânicos e cotidianos,
A epifânica fantasia que cada um se refaz.

Significantes fulcrais, reais e imaginários,
Significados para serem digeridos num divã,
Sacros, sacrilégios e uma sede nunca saciada.

Artifícios que se cultivam a fim de serem processados,
Na impossível amálgama de existências quase reais,
O tempo corre invariavelmente indiferente a tudo.

No encontro profano de Marx, Freud e Sade,
O pulsar de matéria, desejo e gozo,
Na justa medida do que o ser humano é capaz.

Da máscara cordial à vã retórica social,
Da fotografia familiar ao vício privado,
Da cama desalinhada à permissiva intimidade.

A fantasia das ruas,
A fantasia dos salões,
A fantasia das alcovas.

A vida que pulsa, atina e patina,
Entre a angústia pessoal e o contrato coletivo,
A realidade que teima sempre em subverter a ficção.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Entrelinhas




A distância é como uma ponte elevada
entre dois pontos antagônicos...

Quando os olhos não mais conseguirem
visualizar a outra extremidade...

As palavras buscarão silenciosamente
complementar o curso solitário da retina.

Receita de Bom Dia


Pegue um dia qualquer,
qualquer um mesmo,
sem muita cerimônia ou agitação.

Tempere seu amanhecer com alegria e disposição,
Polvilhe com alguns desejos mais sinceros,
sem tanta soberba ou timidez.

Unte a forma do desconforto com um largo sorriso,
Adoce a vontade sem exagerar no sal.

Deixe aquecer lentamente em fogo brando...
sem passar do ponto ou cair na monotonia.

Quando sentir mais confiante...
retire do fogo sem deixar esfriar muito.

Ponto! Agora, coloque em pratos limpos todo o incômodo...
e sirva com suave tranqüilidade em serenas porções.

Ah, é bom deixar avisado!
Não tenha receio de recomeçar tudo de novo,
caso não saiu do seu agrado.

Aquarela


Entre todos os tons,
prefira sempre os menos foscos e opacos.
Uma tarefa necessária da existência
é buscar dar um colorido
mais vibrante e significativo a Vida... 

E o tempo se encarregará
da melhor dosagem
na tonalidade das cores.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Fragmentos do Todo



Quando o Sol se apruma,
A tempestade cessa de azucrinar,
O dia com vigor se envaidece.



O astrolábio se aposenta sem mais ocupar espaço,
O passado registrado é uma caixa de cal,
O futuro não passa de uma ingênua metáfora.


Lágrimas, saudosismos ou projeções astrais,
Apenas servem para tricotarem as bordas do vazio,
O nada não existe, mas a falta encarcera e entorpece.


Louvemos cada existência como um espetáculo singular,
Sob o risco de cair na indigesta e pífia banalização,
A margem de cada angustia efêmera esta o cálice da insanidade sem freios.


No cardume de opções lastreando algum rio está o engano,
A ilusão dizendo que nos constituímos como modernos,
Toda certeza de perna curta oscila entre a prepotência e o sanatório.


De tantas foram às acaloradas promessas de Paraíso,
Tantos falsos templos que somente fizeram macular a fé,
Que se naturalizou a presença da barbárie.


Que a vida somente pode ser vivida no presente,
Entre o prazer da simplicidade do toque,
E a emissão das palavras não simbolizadas.

sábado, 24 de setembro de 2011

Palavras




As palavras são frutos sonoros e profanos do silencio,
Palavras vão além da mera frieza simbólica e assemelham-se as sombras,
Mesmo destituídas de alguma presença material,
Atravessam rios, pontes, edifícios, corações...


Sem tocarem em nenhum objeto alado ou concreto.
Poderão desconstruir todo um sólido e egocêntrico castelo,
As palavras são como faca em brasa ácida sobre a manteiga,
Podem queimar as mãos e escorrer manchadas pelo tempo.


Palavras que inflamam a luta dos bravos,
Palavras que explodem a loucura da malta,
Palavras que fazem descongelar corpos saciados ao chão...


Palavras largadas na beira da praia,
Palavras soturnas, caladas ou sufocadas,
Enfim, apenas palavras na peleja da solidão em noite vagante.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Percepção




A noite vindoura prateada pelo luar,
Incide sua luz perene sobre o olhar,
Quem não dorme não se perde no caminhar,
Quem mantém os olhos fechados poderá ficar condenado a vagar...


Quantos mistérios se escondem na alcova da noite?
Talvez um pouco mais alem do que uma claridade sem deleite,
Quando a água não se mescla no azeite,
Misture mais para que tudo seja bem leve e sem acoite.


Para relaxar sem guardar nenhuma dor hermética,
Desate o cinto calmamente sem medo algum,
O Amor se revela quando a soma aritmética,
Quando dois caminhos se transformam em um.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Ares Noturnos




No silencio que invade a madrugada,
No escuro olhar da paisagem,
Tingida com alguns respingos iluminados,
Na distancia que tilinta quando mais se carece da presença.


A lua vaga em pensamentos desalinhados e fragmentados,
No espaço profundo e difuso entre a vontade e a realidade,
Muitas coisas ficam levitadas no ar, talvez jamais verbalizadas,
Guardadas sob um lacre pesado e calado no céu da boca.


Sob ebulição tremula em algum coração no inverno solitário,
Na noite mais límpida e no olhar mais penitente,
Os lábios secam lentamente ao vento,
Enquanto o desejo ainda teima em pulsar.


O que verdadeiramente deixa rastro na alma,
Não é a poeira fina que leva a saudade,
Mas a brisa fria que bate impiedosa no rosto,
No lastro difuso de uma pálida dor na forma de lagrima.

domingo, 11 de setembro de 2011

Compasso




O ato de amar,
Não deixa ninguém mais pobre ou mais rico,
Mais bonito ou mais feio,
Mais maduro ou mais ingênuo,
Simplesmente torna a jornada mais humana.

Calma com a pressa ávida,
O Amor não é um mero bem material perecível e quantitativo,
Mas uma singularidade que brota robusta no terreno árido,
Da indiferença,
Do egoísmo,
Da agressividade.

Arriscar a delinear o seu campo,
Então seria o amor como um círculo,
Trezentos e sessenta e seis graus curvilíneos e pulsantes,
Independente de onde parte sua direção,
Os dois pontos percorrem todo um eqüidistante caminho,
Cedo ou mais tarde, se ainda permanecer algo do seu vestígio,
Segue de onde partir,
O circulo faz encontrar,
Quaisquer dois pontos,
Quaisquer dois arcos,
Quaisquer dois caminhos,
Num mesmo lugar.

Palpitação



Lábios silenciados em olhos turvados,
O flerte da afronta dos vencedores e o casulo dos vencidos,
Cada palavra é um tijolo edificando um castelo,
Ou um emaranhado desconexo num ferro-velho...


Em cada lembrança que se carrega,
Em cada passo oscilante de espera,
A pouca verdade que não se entrega,
Afinal, qual segredo velado tanto se venera?

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Da Janela




Tempo é tudo aquilo que se constrói e liquefaz,
Sem lágrimas banais ou desenganos melodramáticos,
Consoladas no parapeito desolado da janela.


Da matéria bruta a poeira fluida.
Da banalidade do mal ao recalque atroz,
Da arrogância ingênua a culpa refreada,
Do sonho pueril a queda na realidade.


Não existe mentira perfeita ou verdade absoluta,
Da vida nada se leva com maior intensidade ou quantidade,
Apenas as sensações sensoriais retalhadas.


Armazenadas nas ilusões da retina,
No leito duro de algum asfalto,
Na parede desfalecida da memória.
No fim de cada dia e na trajetória de cada história.

Veleiro




Corpo atado ao mar,
Que veleja no simples pecado de existir,
O desejo incômodo que flui num oceânico silêncio,
Correnteza impiedosa que leva o que é temido entregar.


Na boca trafegam águas de rotas incontidas,
No seio situa uma pequena ilha que desponta um querer,
A sede palpitante na saliva liquefazendo-se na secura do sal,
Ardor indelével que teima em querer desaguar.


No deserto marítimo que casta a interdição,
Deixa-se levar ao leito profundo toda forma de pudor,
Eleva-se no horizonte pendular do ritmado vigor,
Assombram a cabeça os deleites subversivos de alcova.


Exala-se energia na turbulência rotineira da maré dos sentidos,
Invade-se o leito de jocosas pulsões submersas,
Avoluma-se crescentemente o ímpeto transcendente,
Na diáspora ritmada dos grânulos praianos.


Rompe-se no cais em clímax,
Na arrebentação do gozo pueril e profano,
E cai exausto sob um doce salivar,
De um novo querer voltar ao mar.


Diante da praia solitária escorrendo uma sinuosa brisa,
Um par de olhos entreabre-se vagarosamente sob a areia umedecida,
Ainda tinindo um gosto indecifrável na parede dos lábios a desvelar,
Acordar, acordar... E mais um dia começa a se levantar...

sábado, 18 de junho de 2011

Aforismas (III)



Engodo
A mentira é a inútil espera por alguma verdade,
Que escorre rasteira em lábios macios,
Desce pelo limite dentre a razão e o desespero,
E morre no chão de forma inútil e torpe.


Pós-modernidade
O desafio de preencher a vida com tantos vazios,
Que o dia deixa de tropeçar em algo mais útil,
Não tendo muita hesitação em buscar algo melhor,
Seja por tédio, dolo ou mera comodidade.


Nulidade
Quantas almas viventes em castelos de cristais,
Verbalizam palidamente que querem “amor”,
Mas a realidade maquila-se de maneira reversa,
Sobreviver na expectativa de libertar-se desta vã fantasia.


Ternura
Entre o olhar, o som, o toque e os lábios,
São as básicas vias de acesso ao coração,
A vida não é apenas sentir como matéria embrutecida,
É o tinir da sensibilidade de tudo que envolve a percepção.



O mundo da vasta e odiosa cretinice,
Caminha sorrateiro com os gestos de boa índole,
Logo é salutar conhecer muito bem o trigo,
Para não se perder nas promessas fáceis de tanto joio.


Silêncio
O sabor que reside calado na boca,
É um sabor vil que lapida a espera,
Querelas de anseio que sufoca,
Desejos fustigados e latência que impera.


Mis amores
Esa flor la naturaleza del deseo,
Echar raices profundas en su corazón,
Lo que Le permite volar libremente,
En labirinto de las emociones.


Libertinaje
Tus labios son mi veneno
Que se extiende el deseo tácito,
Quiero tu cuerpo como un talismán,
Biliar y el fuego en mi piel.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Pilantropia (Sordidez Poética)


O rato corria solto.
O gato comeu o rato.
O gato se assustou com o cão e correu como louco.
O endiabrado cão com ferocidade truculenta rasgou o gato.
A carrocinha enquadrou o cão violento e atirou-o no camburão canino devido a política sanitária de controle de zoonoses.
A fábrica que gozava de isenção fiscal utilizou parte da matilha como matéria-prima.
A matéria-prima virou condimento de salsichas com selo de qualidade “ISO 9001”.
Para garantir status social e nicho econômico, uma benevolente ONG fez parceria com a fábrica.
Um atravessador definiu o percentual da ONG e de alguns membros de alto escalão da empresa e do governo.
Como plano de marketing, o governo repassou a verba pública para a ONG comprar as salsichas superfaturadas.
Diante de farta propaganda na imprensa, o governo abusou de imagens do “hot-dog” doado para a creche.
Centenas de crianças desnutridas só foram parar na creche devido ao “hot-dog”.
Na televisão, as cenas de muitas crianças felizes e sorridentes ao lado de políticos, artistas esdrúxulos do momento e filantropos...


E pensar que tudo começou apenas com um simples ratinho correndo solto.
Ah, malditos ratos!... Humpf!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Aforismas (II)




Alcova

Quando olhos abertos não podem ver,
Vem a noite batendo a porta,
Anunciando o que instiga antigo castigo,
É o desejo silenciosamente guardado que lateja.


Luxúria
Da madrugada quero uma estrela,
Da escuridão quero um lampejo,
Da cama quero o repouso,
Do seu corpo quero a volúpia...
E do seu desejo quero toda a plenitude.


Lastro Oceânico
A vida cria oportunidades,
A realidade sinaliza algumas opções,
O medo se encarrega de puxar as rédeas,
Enfim, sobra o que é possível fazer.


Culinária
Ao contrário da vingança salobra,
O desejo é um prato que se come de modo fervente,
Desfrutado com alto teor de volúpia e imaginação,
Apimentando a boca em cada impulso torrente.


Ansiedade
Desejo é o que tilinta em pulsares,
Ávido por abarcar todo um mundo em vão,
Sobre a superfície famélica dos lábios,
No oceano selvagem da saudade.


Dúvida
Sonhar é um ato eminentemente humano,
Todavia o grande risco desta dádiva,
É paradoxalmente tão somente sobreviver de suas promessas,
Com receio que de fato possa concretizar tais anseios.


Agora
Sutil é a vida que sempre tece surpresas,
A distância é relativa quando interfere no tempo e no espaço,
Quando casto, o futuro são páginas soltas em branco,
E prevalece a vontade de que alguma coisa esteja sempre próxima.


Desvelo
O desconhecimento gera inúteis conflitos,
Ao deixarmos o ego narcísico de lado,
E abraçarmos a vida com equidade,
É uma boa oportunidade de conhecer o nosso próprio interior.


Maturidade
Sinais de Pandora,
Sinais de outrora,
Grande é o desejo em festa,
Finito é o tempo que nos resta,
Não há amor sem pulsar,
E nenhum rio retorna ao mesmo lugar.


Pôquer
Toda vida segue uma Lei,
Toda Lei segue uma norma,
Toda norma segue um caminho,
Todo caminho segue uma direção,
E daí vem um vendaval embaralhar...
Todas as velhas e mofadas certezas.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Pinguins em Sampa




Em frente à Catedral da Sé, um Pinguim turista desolado falou para um outro amigo antártico ao lado:
- "Aaatchim! É companheiro, bem que te avisei que essa tal Terra da Garoa seria uma GELADA!".

*

Na subsede do Clube dos Cafajestes em São Paulo, um Pinguim encontra com um dos membros mais referenciados do momento, o Sr. Palocci:
- "Sua Excelência, gostaria de saber como poderia ficar rico como o senhor?"
Em tom professoral, o nobre político explica didaticamente ao pobre turista:
- "É simples meu caro bicudo, seja prefeito, deputado e depois ministro e o principal: mantenha sempre a cara de manguaceiro pidão!".

*

Perambulando pelas ruas de São Paulo, um Pinguim tromba com um velho amigo:
- "Pinóquio, o que você faz por estas bandas?".
O boneco de madeira justifica sua presença:
- "Vim visitar meu irmão Alckmin que reina nestas terras e com material própria irá inaugurar o Programa 'LAREIRA PARA SÃO PAULO INTEIRA'".

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Um morador de rua da Praça da Sé questiona um Pinguim que passava desolado naquela região:
- "Oh cumpadi, por que este travesseiro ridículo amarrado na cintura?"
O visitante antártico injuriado resmungou:
- "Nem te conto... Entrei na igreja para me proteger do frio, mas o padre me confundiu com o coroinha!".

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Um fiel mano da Gaviões fica espantado ao ver um bando de Pinguins no centro de um buraco na região de Itaquera.
- "Qualé a parada aí, o qui estão fazendu nu terrenu du NOSSO istádiu?".
Um dos pinguins perplexo logo explica:
- "Ora, resolvemos fazer nosso congresso anual, nos disseram que aqui é a maior FRIA!".

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E no meio da Marcha da Maconha no vão livre do MASP paulistano, um militante-usuário se surpreende:
- "Ai, senti firmeza mano do paletó, manero cê aqui cum nóis... Só nu protesto!".
Com olhinhos vermelhos, o Pinguim cambaleante e com ar desorientado:
- "Protesto?...Que protesto? Neste frio estava me aquecendo curtindo toooda esta fumaça... É mó BARATO!".