Quando os olhos estão fechados,
Nenhuma luz pode adentrar,
No horizonte gélido da pupila,
O alvorecer de um novo dia.
Quando o rosto é desviado,
Traduz na triste dissociação dos desejos,
Nega o sinal tocante da alma,
Dificulta o acesso das palavras.
Quando as mãos se fecham,
Os dedos congelam sem calor,
A palma da mão é esvaziada,
Os lábios se sentem órfãos.
Quando a linguagem é esquecida,
A comunicação é interrompida,
O silêncio é povoado pelo vazio,
O eco das palavras ausentes domina.
Quando os lábios são guardados,
O toque não é conduzido,
Não há a fluidez desejada,
O ar frio cria fissuras indeléveis na superfície.
Quando o corpo é castigado,
Sufocado de toda a sua vontade,
Maltratado por torrentes psicológicas,
Emerge uma dor que adoece e castra.
Quando os sinais não são trocados,
Não há válvula que busca escapar,
Tudo se torna denso e fechado,
Uma noite que nunca chega ao fim.
Quando vidas sobrevivem em separado,
A distância dilacera os sentidos,
Os passos caminham lentamente,
O suor frio gela a espinha.
Quando o coração é perdido na multidão,
A busca frenética pela trilha certa,
Caminhos cheios de bolhas nos pés,
A névoa úmida que cega toda a estrada.
Quando adentra a escuridão,
Como uma derme espessa na alma,
Pesando o corpo sobre os pés descalços,
A madrugada que desperta sem ninguém ao lado.
Quando o coração é sufocado,
Contando mentiras a si mesmo,
Na vã tentativa de criar um mundo ficcional,
Só para não sentir na pele uma vida tão sem sentido.
Quando o pragmatismo de racionalidade egocêntrica engole a emoção,
Tudo fica tingindo com tons cinza e ardência mecânica,
Os dias duros e esbranquiçados desencantam tão sem sabores pueris,
E a autofágica cegueira não percebe a vida escoar entre os lábios.
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