terça-feira, 3 de junho de 2008

Circo Solitude


Nos dias de procissão na antiga cidade vazia,
Cimentado pelo funeral dos lábios,
As palavras solitárias jazem sem vigília,
A ansiedade se eleva com o comboio que traz o circo.


Adentra sem aplausos ao picadeiro,
Um conjunto de tantos sentimentos e animais sem exotismos,
Sob o palco dos vocábulos maltratados e esquecidos,
Um rangido distante de dentes em desolação.


Os dias se sucedem de forma matreira,
Sorrisos esquálidos sem exalarem nenhuma graça,
Palhaços com seus pastelões saltitam sem juízo,
Abracadabra sem poções mágicas.


Páginas esquecidas atiradas pela janela,
Como a areia fina deslizando do caminhão,
A borracha desgastada mancha o papel o que não pode mais apagar,
Lá vêm os trapezistas saltando em vão!


No crivo das palavras sem rumo,
O coração perambula desapegado da seta do tempo,
Fingindo calar os sentimentos mais profundos,
Dias esbranquiçados sem humor.


Entre a lona e o palco,
Um espetáculo de brilho ausente e estrelas cadentes,
O chão fosco de terra batida tingido com marcas indeléveis,
E no final, somos dois espectadores desejando os mesmos atos.


Avançam os caminhos sem oásis,
O circo perambula sem norte,
A cada parada a companhia realiza antigos ensaios,
A insossa criatividade de não trazer alegria.


Na primeira fila uma garotinha sozinha,
Esfregando os olhos e esboçando um sorriso sem jeito no canto dos lábios,
Com uma tristeza quase indisfarçável,
Aplaude com graça silenciosamente o show.


Palhaços que não reproduzem gargalhadas,
Saltimbancos pálidos sem inquietações,
Um marasmo de tédio pulsando com um música ao longe,
Um circo alheio à vida sem alegria.


O circo recolhe todos os seus atores e cenários,
Agora se prepara para descarregá-los em outro vilarejo,
A alegria que foi deixada para trás,
Não anima nenhum sentimento.


No demiurgo da produção em cataclismo,
O circo dobra a lona e parte para a estrada,
Deixando a saudade e o coração fragmentados,
Os sonhos encaixotados enclausuram um peito em desabrigo.


Oxalá! Quem sabe um dia,
De tanto peregrinar pela solitude do vazio,
O circo encontra seu íntimo significado,
Deixando de lado todas as suas marcas efêmeras.

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