sexta-feira, 6 de junho de 2008

Papéis Avulsos


Não ouso lhe dizer,
Mais do que é necessário,
E nunca menos,
Do que é preciso ser dito.


Não desejo mais do que a essência,
Sem maiores rumores,
Somente os lábios sequiosos,
Dispostos a não se calarem diante da dor.


Não estou disposto a somar fantasmas,
Ser mais uma peça no tabuleiro das angústias,
Pairando sempre ares desagregadores,
No silêncio aflito da fuga solitária.


Não pertenço a nenhuma matilha,
Nego o usufruto da ilusão dos condenados,
Sou livre das canalhices bem mapeadas e diluídas na multidão,
Com a dignidade pertinente sem heroísmos banais.


Não fecho os olhos temendo a claridade,
A escuridão não apavora tanto quanto deveria,
Cimento a fé com o suor da caminhada,
Avanço entre os dias desejando nunca cair em vão.


Não arquiteto meus dias com precisão pragmática,
Arregimentando tijolos para o cárcere alheio,
Na tentativa de afogar o outro com desprezo cutâneo,
A fabricação insensata da própria auto-afirmação.


Não velejo na borda das facilidades corrompidas,
Apenas para satisfação imediata do ego,
Sem ornamentar o espelho do umbigo,
Opto para ir bem além do milimétrico nariz.


Não desejo nenhuma felicidade mitigada,
Feridas chagásicas expostas na inútil velocidade,
Quero seu sorriso arrebatador como cálice,
Para brindar com o advento do Sol a cada manhã.


Não recolho feridas de batalha,
Deixo-as exposta ao vento,
Para servirem como indeléveis memórias,
E, quem sabe, os fracassos não se reproduzam aleatoriamente.


Não corro bem comportadamente temendo riscos,
Ardo no veraneio das noites a fio no mormaço do solo salgado,
Anseio o labor da necessidade de transformação,
Movimentando com vigor a energia orgânica dos moinhos da vida.


Não acredito na vastidão do calabouço como as portas da redenção,
Diante das trevas há apenas a voracidade sintomática da deserção dos desejos,
Fomento a busca incansável da emoção que permita entrelaçar os dedos,
Palavras honestas e atenuadoras de ansiedade repousadas sobre seus pés.


Não procuro acender ao topo do egoísmo esterilizado,
Escondidos dentro do baú os bens sentimentais forjadores do caráter,
Provém a liberdade na internalização do aprendizado de erros,
Neles coexiste o fortalecimento da areia que se transforma em asfalto.


Não busco a guerra,
Quero apenas o ato sonhador,
Que possa trazer alívio à sua alma,
Que um dia possa confiar em minhas mãos.

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