quinta-feira, 19 de junho de 2008

Claustrofobia


Quando seus olhos se escondem,
Temendo a claridade do dia,
Sôfrega com a penumbra noturna,
Meu coração sem voz se aglutina.


Tudo tende a ficar fechado,
No espaço diminuto entre o solo e o teto,
As paredes começam a se contraírem,
O oxigênio se torna mais escasso.


Quando os dias pesam algumas toneladas,
Sobre as cabeças atordoadas dos viventes,
Ninguém está imune às intempéries,
Todos são reféns do confinamento do tempo.


Aqui, longe dos seus olhos de volúpia,
Imerso em pensamentos e papéis avulsos,
Sinto latentemente as arestas do quarto,
Reduzirem-se a cada dia de inexata ausência.


Temperatura gélida e uma canção ao longe,
Como se estivesse sendo abafada,
Comedida no interior de um recipiente,
A saudade sendo sufocada dentro de um barril de pólvora.


A solidão do cárcere,
Onde as confissões são impossíveis,
Os dedos já não se encontram tal como carecia,
E de repente a luz se apaga ampliando o vazio.


A densidade do mórbido calabouço,
Prisão erguida pela réstia de pedras da sua muralha,
Quando a luz tão necessária não é sentida,
Nenhuma flor nasce diante das trevas.


Seguem os dias sem descanso no peito aberto,
No labor diário sem recompensa alguma,
As paredes da memória oprimindo a cada centímetro por dia,
Avançam implacavelmente sem direito às súplicas.


No momento que fecho os olhos,
As pálpebras caem como tempestade de trovões,
Gira incandescente todo o espaço à volta,
O tempo corrói a alma sem conhecer trégua.


Luto para conter as barreiras opulentas,
Na inglória tentativa de proteger a sua alma,
Porém, nunca fui nenhum idílico cavaleiro de conto de fadas,
Em trêmula carne, resta a claustrofobia cardíaca oprimindo a todos.

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