sexta-feira, 27 de junho de 2008

A Rosa do Cais


Entre tantas paisagens amorfas,
Ela estava com brilho atípico,
Não era noite e nem era dia,
Simplesmente irradiava toda a sua energia.


E como tantos dedos fantasmagóricos querendo usurpá-la,
Uns com vontade violenta, outros com sorrisos cínicos,
Ela era desprotegida, mas sempre muito tenra,
A rosa se perfilava intacta diante dos vendavais.

A noite era nebulosa, longa e fria,
Uma penumbra que a fazia tremer,
A rosa lá fechada em seu desalento canto,
Talvez esperando alguma nau aparecer.


No cais, navios e barcaças velejavam em ritmo incessante,
Chegada e partida, carga e descarga,
Não havia tempo para sensações além do pétreo cotidiano,
A rosa toda fechada em si, somente buscava um abrigo seguro.


Seu perfume assolava todo o cais,
Não havia aquele que resistia ao seu aroma,
A rosa de tão cobiçada era maltratada,
E fechada, ela já não ligava mais para nada.


E os dias se passaram sem contar nos dedos,
De repente um desavisado marinheiro subiu ao cais,
De relance, sentiu-se magnetizado pelos olhos daquela flor tão rara,
O coração foi atado e congelaram-se as palavras.


Mas a rosa não era para qualquer forasteiro,
Não era prometida, mas também não se rendia aos próprios sentimentos,
A rosa não sabia o que era Amor,
Não sabia nem mesmo o que fazer para não amar.


A madrugada venceu as horas,
O frio acobertou a todos,
A rosa não sabia se fugia ou se entregava,
Um dilema de tão grande, assustava!


E então, como de praxe,
Sem mais, nem menos,
O mar se turvou em intensa tempestade,
E as águas levaram para longe aquela rosa.


A partir de então o mundo caiu,
O sorriso se emudeceu,
Não se ouvia nem mesmo um simples alfinete caindo ao chão.
Tudo era um oceano de desolação.


Em verdade, foi visto que até as nuvens se acinzentaram,
A rima inexata se completou,
Saudade e dor convivendo lado a lado,
O cais era a rosa e essa flor era o próprio Amor.

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