sexta-feira, 20 de junho de 2008

Uma Canção para (ainda) Crer no Amor


O clima está seco e frio,
Ando pela cidade observando pessoas,
Uma simetria entre passos mais curtos e rápidos,
Reflito imaginando no que você estaria pensando neste momento,
E para onde foi parar o tal Amor?


Se o frio também lhe incomoda,
Tanto quanto a ponta dos meus dedos congelando,
Talvez possa entender de maneira mais tranqüila,
As sutilezas de desvelo do Amor,
E para onde foi parar o tal Amor?


Às vezes pensamos que a vida é para sempre,
Que o tempo é só um fator tolo e passageiro,
Acreditamos que logo vem à noite,
E levar consigo toda a melancolia presente,
E para onde foi parar o tal Amor?


Acontece que entre a imaginação e a realidade,
Um mundo de possibilidades pode acontecer,
Entre fantasias, dores, mitos e fantasmas,
A vida é bem mais pétrea do que queremos acreditar,
E para onde foi parar o tal Amor?


Sabemos fazer tantas coisas,
Exceto expressar os sentimentos mais íntimos,
Escoando a vida não vivida entre o fosso dos dedos,
Diante de um vácuo sempre persistente,
E para onde foi parar o tal Amor?


Naquela manhã que acordamos com alguma disposição,
Talvez nos primeiros raios de Sol,
Possam levar algum calor para superfície da pele,
Até quando o mesmo Sol partir escurecendo novamente o dia,
E para onde foi parar o tal Amor?


Quando estamos ausentes,
Muitas vezes mal sentimos as próprias pernas,
Uma falsa sensação de leveza na emergência de um sentimento solitário,
Rondando lentamente nosso imaginário,
E para onde foi parar o tal Amor?


Se a convidasse para uma valsa,
Você se negaria a escutar,
Bailar com leveza diante do salão,
E aquele sorriso tão singelo sendo guardado,
E para onde foi parar tal Amor?


Lembrar daqueles momentos de singularidade atávica,
Palavras proferidas com a sonoridade da emoção,
Será que o tempo levou tudo embora,
Desbotando vocábulos em páginas amareladas de insônia,
E para onde foi parar o tal Amor?


Na peleja noturna contra a tempestade irradiante,
Borrifar mensagens num leito de pedras,
Cantarolar a letra errada da canção no chuveiro,
Observando vestir aquela roupa que só você sabe escolher,
E para onde foi parar o tal Amor?


É um tanto solitário,
Compor da Praça Patriarca ao Viaduto do Chá,
É como se voltasse no tempo e provocar seu sorriso que me fez tão bem,
Sentir o toque aveludado da leveza do beijo,
E para onde foi parar o tal Amor?


Pessoas transitam sem parar,
Risadas histéricas e gringo no saguão,
A tarde fica rangendo a espinha,
E a lembrança do seu semblante velejando,
E para onde foi parar o tal Amor?


Perguntas que não desejam encontrar respostas,
As questões devem ser sentidas e não sucumbidas,
Não existe troca segura entre o travesseiro da cama,
E o afagar imemoriável da permuta de olhos,
E para onde foi parar o tal Amor?


De tão inexato o destempero das ações,
Não é possível saber nem mesmo o motivo causal,
Nem porque o oceano virou deserto,
E marejamos os olhos na implacável distância,
E para onde foi parar o tal Amor?


Nada sei sobre as melhores formas de convencimento,
Da eficiência enigmática das palavras mais acertadas,
Não consigo persuadir a demovê-la de suas muralhas,
E restam sempre as vãs tentativas possíveis,
E para onde foi parar o tal Amor?


Entre tantas palavras à toa,
Haja aquela que sem eira ou nenhuma beira,
Atingir de forma mais entusiástica e quase despretensiosa,
A chave que desacorrente as celas tão vigiadas do coração.
E para onde foi parar o tal Amor?


Quem sabe um dia,
Possa compor outra canção,
Que não seja apenas para preencher de palavras,
O velho bloco de anotações.


Quem sabe um dia,
Ainda consiga compor sem sofreguidão,
Uma canção para você,
Enfim, uma canção para crer no Amor.



(São Paulo, Viaduto do Chá, 30 de maio de 2008)

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