quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Agonia (A Cabeça Sobre Trilhos)


O que impede-lhe de prosseguir?
As pedras na estrada ou a ponte oscilante?
O que faz-lhe recuar em seus anseios?
Nada paira impunemente sobre a mesa.


Ao longe dispara uma sirene,
Sinal de liberdade ou cárcere?
Quem joga dados no escuro,
Inevitavelmente, acaba sempre perdido.


Não brinque no meio da rua,
Nem atrapalhe os pedestres na calçada,
Tome cuidado com os veículos embriagados,
Afinal, quem garante a lucidez do volante?


Cuidado com as lâminas afiadas no meio do colchão,
Não faça da falsa tranqüilidade do labirinto sua gaiola dourada,
O martírio não precisa ser ostentado ou cultuado,
Tampouco carece recitar alguma prece no altar.


Não estabeleça o mecanicismo das metas tolas,
Não prometa o que jamais poderá cumprir,
Sem essa de colocar a culpa nos deuses,
O divino é sempre um inútil curativo para o destempero.


Aquelas mentiras jogadas ao longo do asfalto,
Tanta estupidez empilhada sob pressão,
Abaixe o volume do ego e não destile tanta prepotência,
Ninguém precisa viver bajulando a pequenez de suas vontades.


Não aponte o dedo em riste para ninguém,
Caso fizer isto, esteja sempre seguro,
Pior que a covardia de um falso delator,
É o zunir de um asqueroso mentiroso compulsivo.


Amenize seu orgulho ingênuo e teatral,
O mundo não é a imagem espectral do seu umbigo,
Não crie em demasia suas próprias míticas espectativas,
Liberte seu ego antes que seja por ele devorado.


Veja o tempo nublado e pouco afável as certezas absolutas,
Por que optar voluntariamente pelo caminho da infelicidade?
Não atropele a tudo que ainda lhe resta de esperança,
Pouco adianta entrar em desvario ao gritar contra a tempestade.


Tanto sangue evaporado pela impiedosa indiferença,
Não há ação sem causar pelo menos uma pequena dor,
Alerte os olhos e fique sabendo de um vez por todas:
Acredite, o mundo não vai acabar amanhã!

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