Espaço dedicado à análise, reflexão e crítica dos enlaces, desarranjos e autofagias do homem (i)material e o desencanto do mundo contemporâneo.
sábado, 29 de novembro de 2008
O Espelho Enterrado
Na imposição coercitiva da distância,
As palavras se rompem,
As pálpebras se fecham,
E os delírios da vontade ficam à deriva.
Os soldados marcham com firme alienação,
Aprumamos assim, pé ante pé,
Na fileira dos dias sem trégua,
Ao olhar para baixo, a água já passou da altura do joelho.
Que guerrilha é esta travada contra nossa história?
Na lida silenciosa contra o espelho,
Que face turva desejamos observar,
Para que(m) ansiamos nos iludir?
Por que contentarmos com parábolas de auto-ajuda?
Se não desejamos realmente nos ajudar,
Todo Amor que se afasta sem explicação,
É a vida que nunca floresce por inteiro.
Quem grita escancarado no alto da colina,
Nem sempre conquistará a benesse de ser ouvido,
Não subestime a capacidade da dor,
Ao adormecer, deixe os olhos sempre bem abertos.
Nas praças das almas esquecidas,
Quem joga milho aos pombos?
Quem atira sobre os próprios pés?
Resta então enterrar o espelho na frio madrugada.
Por que a complacência com o riso ensandecido das hienas?
Sucumbir aos caprichos carnívoros dos abutres,
Entregar o sangue com rodelas de limão aos vampiros?
Quem desiste da vida jamais se encontrará em momento algum.
Todos sabemos das pedras polvilhadas nos caminhos gelatinosos,
O suor sobre a teste denunciando o esforço atávico,
Quem quer viver com liberdade neste mundo do espetáculo,
Se nunca desejamos nos encontrar realmente?
Nossas fragilidades nos servem como inútil consolo,
Logo abrimos mão de qualquer serenidade,
Ao optar pelo lar doce lar do Inferno cotidiano,
Ninguém parece realmente levar a sério a si mesmo.
Filhos, famílias, ingratidões e pequenas mentiras sem grande importância,
Na composição dos dias de dores sem localização,
Ninguém pede salvação sem levar em conta seu próprio suicídio,
Apenas almejar um pequeno lote privativo no Paraíso.
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Um comentário:
Agradecida pelo envio de seu poema repleto de sentimentos e vivências que tocam o íntimo do ser. A quarta estrofe mexeu comigo, por causa dos meus antigos amores que pereceram, mas que sempre me deixaram algo de novo no meu viver! Beijos!
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