Espaço dedicado à análise, reflexão e crítica dos enlaces, desarranjos e autofagias do homem (i)material e o desencanto do mundo contemporâneo.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Ouro do Tolo
O homem é o que não é o que é, e que é o que não é. (Hegel)
A cada passo que dou,
Dentro da solitude que me acompanha,
Nem sei mais ao certo,
Desembrulhar ou não alguma razão.
Dentro das premissas do bom convívio,
Das articulações estéreis do mundo das aparências,
Nada é mais medíocre, falido ou patético,
Arregimentar vaidades corrosivas e imaturas.
Descartando a preferência pela avenida das futilidades,
Destilo meu asco pela simplificação do senso comum,
Reluto em não martelar a insatisfação imediata do ego,
Procuro não deixar seduzir pelas quimeras banalidades narcíseas.
Não cultivo cobaias em laboratório,
Tampouco conduzo experiências de ventríloquo,
Não quero ser a voz da obviedade filantrópica,
Não chuto a canela alheia e não dou carrinhos futebolísticos.
Ser e nunca ser o que jamais desejei,
Não balbuciar arrogância premeditada dos abutres,
Sem crivar os olhos em boçalidades estúpidas,
Não deserdar do campo de batalha e não deixar os corpos sucumbirem em vão .
Não quero me hospedar em asilos,
No jazigo do breve fim dos meus líquidos dias,
Detesto comida pré-fabricada em latas galvanizadas,
Não coleciono o silêncio dos sentimentos em potes de margarina.
Não faço coro com os que se iludem com o tesouro no final do arco-íris.
Não me convence a estrada dos banguelos sorrisos amarelos,
Não ajudo a conduzir a alma alheia pela alça do sepulcro,
Não levo a vela para a vigília em soturnos cemitérios.
Entre derrotas sacrificadas e minguadas vitórias,
Procuro ir um pouco além do que é possível ser,
Talvez esboçar algum pálido riso e se acostumar a ouvir o eco do vácuo,
Na divergência dos constantes sonos intranqüilos.
Não acredito na eclosão de revoluções,
Herdadas pelas cretinices dos que miram para o próprio umbigo,
Não acredito em marionetes ditando normas,
Tampouco sacio minha sede em sangue alheio.
Entre chuvas torrenciais e noites escuras,
Na solidão dos meus passos e o clarão ébrio da lua,
Sigo o que ainda consigo acreditar,
Sem desejar morrer voluntariamente pelo ouro dos tolos.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário