As que mais causam sôfregas dores,
São aquelas registradas pela ausência,
Sem enfeitarem ou polirem os vocábulos.
Quanta ação é jogada fora,
Residindo intrinsecamente no verbo sentir,
Sensações suprimidas tão peremptoriamente,
A derrota corrosiva partilhada no vácuo.
Abro a janela e não sei o que pensar,
De uma aparência volátil com leve frescor e suavidade,
Logo vêm os pingos da chuva teimando em adentrar ao quarto,
Desfazendo toda a impressão inicial.
E aquela vontade de não sucumbir à dor?
Arquivada bem debaixo do travesseiro,
Na contabilidade do atalho narcíseo é mais fácil calar o silêncio,
Ao invés de erguer o hercúleo templo das palavras.
Lá fora não há nada: absolutamente nada!
Aqui dentro tampouco coexiste o desejo presente,
As brumas de tão densas servem para derrubarem as pontes,
E no limite, se encarregam de ocultar quem eu sou.
Seria o Destino implacável e mesquinho?
Maltrata e desarticula suas vítimas,
Relega à orfandade seus ingênuos reféns,
Resta então colocar a culpa nos deuses e suas indiferenças pagãs.
A tarde segue calada e fria em sua rotina cristalina,
O silêncio contamina o quarto como um febre terçã,
A sonoridade se emudeceu rapidamente,
E os lábios coçam na tentativa de emitir algum ruído.
Por mais que é refletida inadvertidamente,
Nenhuma idéia salta da parede com vigor,
Os fantasmas dos dias amargos batem o cartão de ponto,
A palavra castrada é a jaula hermética das incertezas.
O sono cai, o corpo desfalece e a escrita pesa,
A vida mimetiza a folha límpida do caderno,
A tinta desestimulada de registrar suas impressões,
O deserto se completa sem maiores surpresas.
Pensar e não realizar,
Pensar e nada poder atingir,
As palavras limitadas pelo papel,
As mãos aprisionadas sem ação.
Há dias que palavras e pensamentos se desvencilham,
Não se acham no mesmo espaço,
Como entidades abstratas biunívocas,
Enclausuradas em si mesmas.
Segue a vida,
Segue o corte,
Palpita o tempo,
Corrompe a liberdade.
Diante do horizonte mergulhado em sólidas nuvens,
O percurso é longo e as respostas são enigmáticas,
Com o suor salobro trilhando sobre a testa,
Na lida silenciosa pelo clarão dos seus olhos.
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