domingo, 16 de novembro de 2008

Amores (I)miscíveis (As Metades Presentes)


A rua de lá,
Não é a mesma de cá,
Lá se encontra o meu desejo,
Cá estagna a presente ausência.


Lá e cá,
Divididos por uma muralha chinesa,
Tão perto e tão eqüidistante,
Unidos por um vazio silencioso.


Lá não sei ao certo onde você está,
Cá estou sem saber do chão onde me encontro,
Brumas pousaram densamente sobre nossas cabeças,
Lá e cá onde tudo se turva em desvairado nevoeiro.


Lá é mais fácil de sustentar a ilusória auto-preservação,
Cá não há júbilo para tanta insípida opressão,
A vida caminhando moribunda em cima do muro,
Lá e cá são faces porosas da mesma latência.


Lá está o frio que seu corpo finge não sentir,
Cá está congelando ao som da melodia de Piaf,
O pouco Sol não é suficiente para ninguém,
Vem a chuva a encharcar a todos nós.


Lá definitivamente não é anil,
Cá perdeu as cores há muito tempo,
Cinza dá o tom da reentrância dos meus pensamentos,
Lá e cá perderam as caixas de lápis com grafites coloridos.


Lá pensa que pode ignorar a dor,
Cá sobrevive apesar da dor,
Atávicos sobre mundos em procissão,
Lá e cá reinam insólitos na inútil autofagia.


Lá os lábios foram voluntariamente aprisionados,
Cá o cárcere se tornou um indescritível jazigo,
Julgamento sumário sem ressalvas para a defesa,
Lá e cá no calabouço que fragmenta qualquer vida.


Lá os olhos se fecharam,
Cá os dedos não alcançaram o topo da muralha,
No silêncio onde todos se afogam,
Lá e cá vagam sem mirarem algum rumo.


Por que não sai daí,
E vem para o lado de cá?
Se os sonhos que estão aí,
Forem semelhantes aos ensejos palpitantes aqui.


Lá pode ter a frieza de algum jardim adormecido,
Cá é onde se encontram todas as flores para ornamentá-lo,
Os caminhos se cruzam no eixo de duas vidas,
Lá e cá são amálgamas de um curso pautado sob as luzes de duas rotas.


Lá é possível maltratar os dias,
Cá responde à isto com tristeza,
Quem ganha no corte fino da angústia?
Cabe ao tempo responder sobre a enfermidade das metades.

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