domingo, 9 de novembro de 2008

Desesperadamente Amor


A noite era uma nuvem negra,
Que adentrava sorrateira em seu quarto,
Outrora onde tudo que era vida,
Tudo parecia ser consumido sem clemência.


Ela estava sentada no meio de sua cama,
Esvaziada com seus poucos pertences,
Com suas pequeninas pernas encolhidas,
O medo congelava seu desesperado coração.


Os cabelos de menina encobriam seus cintilantes olhos,
Suas mãos curtas escondiam suas pálpebras,
Os lábios finos se uniam como se tivessem costurados à mão,
Desarticulado, seu franzino corpo tremia incessantemente.


Com a chuva torrencial que assolava o céu,
E o frio intermitente que batia à sua janela,
Ela se encolhia cada vez mais como um simples caracol,
E dois longos filetes de lágrimas brotaram sobre seu rosto.


Na medida em que a tempestade se intensificava,
Alguns trovões estremeciam o quarto,
Relâmpagos aperiódicos iluminavam o recinto,
E aquele pavor que subia do estômago à boca.


Suscitando vagas lembranças, ela conduziu seus pequenos dedos,
Circundando levemente algumas feridas ainda doloridas,
Desde a última vez que aquele homem brincou com o seu corpo,
Na tentativa inútil de fugir dos carinhos de intimidade sem nenhuma graça.


Queria gritar com o que ainda restava de ar confinado em seus pulmões,
Porém, a atávica angústia preenchia seus cansados olhos,
Queria fazer algum barulho para chamar a atenção de alguém,
Com os dedos petrificados era improvável qualquer saída.


O vento uivava parecendo clamar pela mãe,
Mas qual mãe se nunca tinha visto seu vulto pela frente?
O pai era uma mera abstração simbólica de sua mente,
Ela se sentia a solidão encarcerada em si mesma.


Mais uma ensurdecedora trovoada,
A menina se agarrava desesperadamente à seu bicho de trapos,
Como se fosse a mão de sua tão sonhada proteção materna.
Que certamente acalmaria suas ansiedades pueris.


Sozinha naquele quarto úmido e escuro,
Nem mesmo atormentados fantasmas a visitavam,
Um resto de sopa permanecia num prato assentado sobre a cômoda,
E um pedaço de pão com três pequenas mordidas.


Desesperadamente ela queria ser protegida,
Ser tratada ao menos com algumas gotas de atenção,
Não tinha muita idéia do que era tudo aquilo,
No fundo, ela somente queria que seus ossos não tremessem tanto.


Ninguém sabia quem era aquela criança ou como chegou até ali,
Tampouco o nome de batismo ou endereço conhecido,
Lá estava ela esperando alguém reclamar a sua existência,
Era mais uma alma lançada no meio da hostilidade do mundo.

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