Espaço dedicado à análise, reflexão e crítica dos enlaces, desarranjos e autofagias do homem (i)material e o desencanto do mundo contemporâneo.
domingo, 23 de novembro de 2008
Noite Vazia (A Saudade Nua)
E eu, e tu, / Perdidos e sós, / Amantes distantes,
Que nunca caiam as pontes entre nós.
(Pedro Abrunhosa)
Na rua por onde caminho,
Continua vaga e deserta,
A cada passo trocado na noite,
É um pensamento sem direção.
Agora começa a chover,
Deixo as gotas caírem sobre a minha cabeça,
Talvez desta maneira as coisas se esfriem um pouco,
E quem sabe amenizar os desejos agitados e intranqüilos.
Procuro aquecer minhas mãos dentro dos bolsos,
A respiração é dificultada pelo frio intenso,
Ouço alguns cães latindo erraticamente ao longe,
Que sinfonia mais esdrúxula numa noite vazia!
As vezes, tenho vontade de não mais parar,
Caminhar e caminhar firme e constantemente,
Cujo roteiro é o que meu nariz ditar,
Sem deixar pegadas ou marcas para trás.
Sinto a baixa temperatura começar a incomodar,
Não sei ao certo o que pensar ou se devo pensar algo,
A mente desafortunadamente vaga sem rumo,
E os meus pés sem chão seguem o mesmo itinerário.
Por onde cruzam as vias da vida?
Sem faróis vermelhos para interceptar o curso,
O que há além da contínua estrada?
Sinto que a sobriedade nem sempre é a melhor companhia.
A Lua ilumina com tamanha indiferença,
Como se ela não se importasse com nada ao redor,
O relato orquestrado e silencioso de minhas dores,
Que a cada noite rabisco através de alguns versos.
Com ou sem alguma quantia de álcool,
Na boca seca ou subindo à cabeça,
A noite tem um odor identificado sem muita precisão,
Mas certamente não é o aroma que almejaria sentir neste momento.
Um vento úmido bate levemente no rosto,
Ao contrário do peso da saudade despida,
Das pedras e promessas que carrego nos ombros,
Não acredito em nenhuma medalha para meu mérito.
No frio da noite queremos dizer tantas coisas,
Querer desesperadamente atingir de modo certeiro,
Os ouvidos dinamitados e mergulhados em silêncio,
E a voz permanece turva e rouca de tanto calar.
Sei que tudo conquistado foi apartado,
Todos os vestígios físicos de lembranças confiscados,
Uma sentida ausência de qualquer material tingido de sentimento,
Mas como esquecer a singularidade de um olhar cristalizado em bálsamo?
Na rua sem alma viva e onde os uivos solitários se aglutinam,
Somente meus passos trôpegos causam ruídos,
Tanto desejaria uma ponte que interligasse as distâncias,
Quem sabe assim poderia resgatar o seu coração.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário