Espaço dedicado à análise, reflexão e crítica dos enlaces, desarranjos e autofagias do homem (i)material e o desencanto do mundo contemporâneo.
domingo, 30 de novembro de 2008
Deserto Sabático
Deitado ouço a chuva despencando sobre o teto do quarto,
Chuva intensa do veranico de novembro,
Faz calor e a sensação térmica é bem maior,
É sábado e não há novidade no ar.
A intensidade volátil das gotas d' água,
Ampliam-se velozmente com a queda intermitente,
Um forte e denso barulho ressoando na janela,
É sábado e nada acontece como se desejaria.
As nuvens aterrizam-se silenciosamente,
Tudo fica mais acinzentado e dificultando a visão,
O dia se movimentando palidamente,
É sábado e as mãos estão estagnadas.
Os automóveis rompem as ruas com barulho intenso,
Nas sarjetas escoam rios de águas imundas,
Uma galeria eclode e escoa tudo que nada mais serve pela calçada,
É sábado e o dia caminha rotineiro e extático.
Os faróis cintilantes se esconderam sem aviso prévio,
As pálpebras colhem lentamente as perdas com a inundação,
Ao redor um deserto se formou movido por uma espessa penumbra,
É sábado e os pássaros agora gorjeiam desmotivados.
Queria atravessar a ponte e não sei ao certo como fazer,
Rompida pela insensatez dos sentidos,
A linha invisível que liga um olhar ao outro,
É sábado e as horas ultrapassam o martírio da espera a inexata.
Pela cortina observo que a chuva retornou com mais força,
Fico pensando no tempo onde tudo era muito mais afetivo,
Agora o que resta de nós senão a solidão do outro,
E somente não é pior que a solidão de si.
Um jejuar involuntário sem vontade,
O sabor acre comedido do sábado,
Sem recitar nenhuma oração sabática,
A chuva permanece aqui dentro.
Segue o sábado com chuvas intercaladas,
Ora temporal, ora estiagem,
O clima instável não permanece tão diferente,
Do que veleja no interior dos pensamentos aqui dentro.
Os dias secos perfilam com raquítica pobreza,
Famélicos pelos dias de solidão e sem chão,
Recomeça a chuva pranteando lá fora,
E ao meu lado permanece o sábado atado e calado.
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Um comentário:
Poema lindo, mesclado de comparações entre o real e imaginário dos sentimentos mais profundos de nossa existência. O leitor se identifica com o poeta na oitava estrofe, quando este externa seu amor infrutífero, sentido na calada do sábado, restando lágrimas (chuva) e saudades.
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