domingo, 21 de outubro de 2007

Albacora (A canção de Cananéia)


“Tudo só para os olhos!
E nos olhos um ritmo,
Uma cor fugitiva,
A sombra de uma forma,
Um repentino vento
E um naufrágio infinito.”
( Octavio Paz )

A onda leva,
Anda a passos rítmicos,
Bailando ao pôr-do-sol.

No mar,
O azul-turqueza
Se confunde com a lembrança do prisma
Avassalador dos seus olhos esmeraldinos...
A saudade flua
Como a proa do meu chão,
Refletindo o seu esboço,
Suavizando o cansaço,
Solidificando o ensejo,
Segregando a angústia,
Como um barco em alto-mar,
Cortando águas espumadas ao redor.

Lá fora,
Onde o que era mundo,
Tomou a escuridão para si.
Onde o que parecia ser o infinito,
Não é nada além
Que o finito do meu ínfimo barco.
O mundo passa então do infinito horizonte,
Ao limitado convés,
Onde finco meus pés.

A solidão é tamanha!
É não é maior,
Quando o silêncio é sondado
Por fragatas a planar,
Golfinhos a mergulhar,
Cardumes a nos visitar,
E a sonora insensatez do motor a girar
Quebrando a morbidez do limbo.

A onda anda,
A onda ressoa,
Uma afinada canção,
Amálgama do vazio oprimido,
É oriunda da flutuante ação das águas,
Conduzindo uma gélida brisa persiste em minha face.
E a cada movimento do solo
Nos remete a desagradável sensação de insegurança.

Na dimensão da existência humana
Somos quase nada,
Somos limítrofes em nós mesmos!
E quando penso nesta fronteira íntima,
Busco procurar lhe dizer,
Para fazei-la entender,
Que minha dedicação por Você
É como a plenitude das águas
Ao sabor das correntes,
Ao sabor da força dos ventos,
Ao sabor da energia das ondas...

A cada minuto,
Uma hora...
A cada hora,
Um dia...
Os dias são longos,
Como um olhar de adeus!...

Velejar é qualquer coisa
Semelhante aos reversos da vida!...


(Em Cananéia, litoral Sul de São Paulo, bem longe da costa e participando de uma expedição promovida pelo IO-USP a bordo do barco Albacora, 21/07/98)

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