domingo, 21 de outubro de 2007

Requiém autofágico



Talvez em algum dia,
Quando a névoa zarpar,
Quando o medo naufragar,
Quando o tempo passar
Desapercebido de nossas vidas,
Encontraremos respostas que acalente nossa razão.
E talvez neste impávido momento,
Brotarão as lágrimas que relutamos não ceder a vida inteira
Aos inevitáveis apelos da razão...
Talvez perceberemos que a aurora límpida
Que saciávamos encontrar avidamente,
Nunca existiu e nem promessa de seu canto de sedução jamais permeou a realidade...
Se o destino rege alguma atividade probabilística em nossas vidas
Certamente, o seu domínio é fugaz e insipiente.
O destino é apenas a tradução vindoura de nossos mais orgânicos desejos presentes!

Há algumas verdades na vida,
Tão essencialmente intrínsecas e latentes,
As quais passam translúcidas no suceder dos dias,
Raramente refletidas ou sentidas,
Sem ao menos percebermos a sua mensagem...
A vida nunca é racionalmente coerente,
A vida nunca é a imediata transposição dos sonhos,
A vida nunca é completamente o transbordar da íntima alegoria,
A vida simplesmente é a transfiguração que propomos a si mesmos,
A aridez de uma alma em espinhos,
A tenacidade de desejos altruístas,
A volúpia de quimeras ditosas,
A sagacidade da busca eterna do saber.

Se a felicidade existe um fim,
Seria um fim em si mesmo.
Quando desejamos não a encontramos,
Quando encontramos não sabemos ao certo se é, tão somente, projeção surreal...
Até descobrimos, tardiamente, que sua face era bem natural...

A vida é um martírio no qual não sabemos a sua sentença,
Talvez se soubéssemos a sua penitência,
Não haveria sentido a sua existência...

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