sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Arame Farpado (Para Não Cair no Vazio)


Era uma vez, sem nenhuma solidez,
Uma estrada quase esquecida chamada Felicidade,
Uns diziam que não chegava a lugar nenhum,
Outros diziam que era o único caminho para alguma coisa.


Muitos tentaram descobrir sua trilha e não entenderam absolutamente nada,
Outros burlaram tudo o que era possível para esconder suas pistas,
Para os poucos sobreviventes que decifraram o trajeto,
Sabem que a tal via não é nada trivial.


Muitos julgaram a Felicidade um como mito a ser esquecido,
Outros predestinaram suas vidas a desbravar seu leito sem medo do perigo,
E no rol das confissões, eu mesmo na minha tenra infância,
Acreditava que tal caminho iniciaria no fundo do quintal de casa.


Quem me dera sem demora,
Tomar emprestado o tentador mapa deste caminho sinuoso,
Seja rabiscado num papel de pão ou monitorado num GPS,
Algo que indique com alguma silhueta onde eu possa firmar meus pés.


Há tantos percursos por onde adoramos nos iludir na vida,
Se enroscar com relacionamentos fúteis, sexo banal ou ansiedades descartáveis,
Rotas prévias sem sinais de vida ou inevitavelmente mergulhadas em prantos,
Peregrinar com um saco de papel na cabeça e não chegar à parte alguma.


Quando meu pai disse: “Filho, vai ser homem na vida!”,
Pensava que ser homem era ser mais um no rebanho,
Mas na verdade, percebi que é preciso ir muito mais além,
Sem cair nas premissas dos lugares-comuns e sem os cacoetes apodrecidos da existência.


Ser decidido e buscar encontrar reunir os fragmentados vestígios,
Desvencilhado dos grilhões de arame farpado atados nas mãos e olhos bem libertos,
É preciso subir sempre mais alto e olhando tranquilamente para os lados,
Sem fazer concessões aos espectros e os medos mais indeléveis.


Há tanta gente com receio de se deparar com a Felicidade,
Talvez seja a inquietação quando de repente encontrar o seu caminho: E o quê fazer então?
A dor visceral é sempre muito mais fácil de administrar,
É gritar e gritar aturdidamente no fundo silencioso do quarto vazio.


A Felicidade não sucumbe aos fúteis egoísmos,
Tampouco se nutre de sentimentos pequenos e mesquinhos,
São águas calmas e generosas que beiram à praia e fazem-nos mais leves,
E por que estaríamos sozinhos num momento como este?


Nunca renunciar a idéia das vias de liberdade,
Nunca assassinar a esperança ainda latente no peito,
E acender velas no crematório das angústias,
A Felicidade deverá ser uma via mais simples e menos indolor.

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