quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Vertigens Interiores



Pé na estrada e sigo viagem,
Luzes erráticas escorrendo pelo caminho,
Deixo para trás meu recinto e tudo pelo que eu tenho amor,
E carregando sempre comigo a lembrança dos seus olhos.


A cada partida da cidade natal,
Adentro no interior dos meus sentidos,
Pensamentos e inquietações vagando,
Tentativa absoluta de resgatar a outrora Paz extraviada.


As janelas impregnadas de luar e orvalho,
A umidade se faz bem presente,
Na superfície do vidro, cada gota desliza como um rio flamejante,
O ar-condicionado transforma tudo ao redor na sucursal da Antártida.


A atmosfera fria aqui dentro e as cidades ao longe,
Aparecem e sucumbem como pequenos grânulos de luzes,
A noite é como um manto enegrecido,
Em volta, tudo é um grande e lacônico vácuo.


A saudade gira com o desenrolar dos pneus do veículo,
Uma brevíssima parada numa pequena cidade.
Passageiros se aceleram para uma fugaz alimentação,
Luzes e áudio fazem que apressem seus passos e não atrasar o trajeto.


Manhã de Marília,
A cidade se levanta preguiçosa,
Como um dia de feriado,
Em plena segunda-feira morna!


Ruas largas e esvaziadas,
Caminho pela calçada praticamente deserta,
A cidade que demora a acordar,
Tudo é mais lento, leve e tranqüilo.


Todavia esse bucolismo é apenas um disfarce,
Bem presente e latente no meu peito,
Até seguir abrigado no terminal de ônibus do lugar,
Um misto de nostalgia e fúnebre memória do passado local.


Por todos os lados e em cada canto,
A impressão do improvável,
Desejaria tudo para que fosse possível compor a paisagem,
Com um breve relance do seu furtivo olhar.


Por onde andam e seguem seus passos longe dos meus,
Não há nada que possa apagar,
Sentimentos atávicos de saudade,
Rastilho de lembranças tão presentes.


No interior ou na capital,
Que a tranqüila possa lhe encontrar,
Se de repente sentir encantada com um simples relance,
É o meu desejo buscando delicadamente lhe afagar.


Quais são as coisas e as palavras,
Que possam fazer colorir a Primavera do seu jardim,
Quais são os dias e as noites,
Que possam dar-lhe um pouco mais de proteção?


Há coisas tão fundamentais na vida,
De tantos sentidos amargos preferimos então fingir,
Desde então desejaria desveladamente aos Céus,
De poder chegar perto e sentir o seu abraço.


A cada partida uma lembrança sentida,
A cada chegada uma ausência inalterável,
Na cidade que ficou para trás,
Na rádio uma canção ecoa muito além das palavras.


A noite envolve a discreta cidade,
De volta à rodoviária e pronto para outra partida,

My way ecoa solenemente por todos os lugares,
Dia sim, dia não e as palavras são conduzidas interiormente no coração.


(Marília, 25 de agosto de 2008)


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