quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Quadrilátero


O que há detrás daquele muro?
Quais são os segredos lacrados confinados na muralha?
Não quero paredes nos isolando,
Quero pontes nos comunicando.


Todos os segredos foram feitos para serem desvelados,
Todas as intrigas foram criadas para serem desmascaradas,
Todas as barreiras foram impostas para serem superadas,
Alguém poderá fugir da batalha?


A garganta seca de tanto gritar,
A palavra refeita de tanto recitar,
O gesto propagado de tanto acenar,
A lágrima deslizada de tanto esperar.


Tudo quase sempre feito agora,
Tudo quase sempre escondido na memória,
Tudo quase sempre sufocado sem glória,
O que faz tirar o seu sono?


As contas a pagar,
As dores a zelar,
O Amor a ressuscitar,
A vida a ansiar?


O muro que desloca a naturalidade,
Afasta o que foi feito para ser unido,
Separar em vísceras a alegria da tristeza,
Um soerguimento voluntário em pedras sem piedade.


Ardemos dias gotejando sangue imperecível,
A preferência pelas feridas subcutâneas ao perfume na superfície,
Como se um veneno tivesse sido injetado contra a razão,
Em silêncio, corroendo efusivamente o vazio.


Cada um de nós oculta dentro de si o próprio Inferno,
É lá onde residem às angústias e o mundo que não nunca ansiamos reconhecer,
Quando não queremos nos encontrar consigo mesmo,
No quadrilátero inverossímil que afasta o self e o mundo real.


Às vezes, a poesia parece se tornar insuficiente,
Para fazer brilhar um pouco mais as estrelas da sua constelação,
Quem poderá acreditar nas palavras,
Quando se julga à revelia que tudo estará perdido?


A noite que vem e passa,
A madrugada que chega e ameaça,
O vendaval que esfria e descalça,
Os pés espoliados pelos espinhos espalhados pelo caminho.


No suor que vêm à testa,
Fico a imaginar os motivos de tão longas barreiras,
Às vezes, parece até que deseja atingir as nuvens,
Não seria mais afável chegar à estratosfera com o calor de um sincero beijo?


Nenhum homem é tão forte a ponto de salvar um planeta,
Talvez possa salvar algumas vidas ou apenas uma única existência,
Não existe cansaço no combate e não haverá perdedores,
A derrota só prevalecerá quando desistimos de não mais viver.


Todas as grandezas materiais serão reduzidas a uma mísera poeira cinzenta,
Da vida nada levamos exceto as lembranças e os bons sentimentos conservados,
Nada é tão importante quanto um largo sorriso afetuoso,
Do filho, do Amor e de tudo que possamos carregar com o máximo prazer.


Não há caminhos asfaltados e tampouco atalhos confiáveis,
Não há muros que não sejam impossíveis de serem escalados,
Quando existe a substancial grandeza fluindo pela alma,
Nenhuma fria muralha haverá de aprisionar um atávico desejo.

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