quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Escafandro (O Tempo à Flor da Pele)


O que é o Tempo e como ele pode ser o que é?
Observando a locomoção dos ponteiros na parede,
É difícil encontrar uma resposta que amenize,
A angústia presente em cada momento.


Quem nunca teve aquela maldita sensação,
Que o Tempo está tão curto e nada vai adiantar,
Correndo com aflição de um lado para outro,
Não sabendo por quanto Tempo e por quê?


A areia da ampulheta desliza com lentidão,
Como se gradativamente perfurasse com perversão o peito,
Um tic-tac tão sinistro quanto às gargalhadas de um torpe palhaço,
Nenhum cavalheiro consegue desvencilhar tão facilmente diante das trevas.


O Tempo que só existe em nossos sentidos,
Que reina absoluto no vácuo libertário do espaço,
Quem sou eu perante a Via Láctea?
Somos nada, exceto um polvilhar de poeira cósmica.


E como grânulos saltitantes entre o limbo e o caos,
Recolhemos nossos fragmentos sem exatidão,
Sete da manhã e a noite inteira recolhendo pensamentos,
O Tempo que escorre é o mesmo que sangra.


Dizem que há Tempo para tudo,
Um presságio de uma metáfora mais otimista?
Alguém pode responder quanto tempo resta de vida?
É uma realidade bem mais latente e imprevisível.


A brevidade do Tempo,
O curto-circuito das horas,
Cada momento uma pérola,
Cada lembrança uma senzala.


Escravo das horas indigestas,
Ressaltando a marca de dor sufocada,
Fingindo que o Tempo é um curandeiro,
Como é inútil assassinar o relógio!


Cabe à insanidade do Tempo,
Dilacerar vagarosamente cada músculo cardíaco,
Com um bisturi de ponta cega,
Engolir a saliva à seco sem olhar para os ponteiros.


Tudo ao mesmo Tempo agora,
E nada que faça satisfazer a imensa vontade,
O Inferno não espera ninguém e não faz hora,
Salta de suas profundezas e engole o presente.


Dizem que o tempo não pára,
Quanta bobagem há nisto!
O Tempo é a metáfora circulante sem nexo,
Para que acreditemos vivenciar alguma coisa lá fora.


O Tempo não escolhe inimigos,
Tampouco seleciona amigos,
O Tempo é uma lâmina de indiferença,
Sobre os pulsos dos desavisados e dos encarcerados.


Alguns mergulham nas horas,
Como se a vida rezasse para o Tempo ser algum remédio,
Bolhas eclodem em pés cansados e marcas indeléveis sobre a face,
A caminhada inverossímil contra o Tempo até ser levado o corpo.


O Tempo corre livre enquanto a vida encurta,
Desliza silenciosamente pela garganta,
Sobre a pele pode gerar algumas silhuetas,
Mas a dor... Ela é estática!


O Tempo que não passa o Amor,
O Tempo que a Paixão nunca é esquecida,
Nenhuma fluidez do Tempo faz deslembrar toda a ternura,
A ingratidão do Tempo que aprisiona ponteiros, olhares e corações.

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