domingo, 24 de agosto de 2008

Mar Adentro


Mais uma madrugada e o silêncio permanece,
Fico observando a luz dependurada no teto,
O telefone que teima em não tocar,
E as palavras continuam todas amotinadas.


Na boca, a sensação tácita da ausência,
Os seus lábios que se esconderam,
Como se corressem com as marés,
Longe do alcance das minhas mãos.


E o que fazer quando seu olhar se oculta?
A alegria se torna seca como o ar,
A manhã clareia lentamente sem graça alguma,
E a vida chamando para se compartilhada.


Mar salgado que tanto salga a praia que se encontra deserta,
Ardem os olhos de tanta salinidade em dias marejados de desencanto,
Se soubesse o quanto desatina a saudade absoluta no meu peito,
Não velejaria para tão longe assim.


É tão difícil navegar na solidão do alto mar,
Tanto tempo sem tocar em seus lábios,
Seus olhos são faróis pelos quais despertam meu sono,
Minha flor do Lácio que tanto desejo enlaçar em meus braços.


Atiro garrafas com mensagens no imenso mar simbólico ao meu redor,
Com a esperança que uma delas chegue até suas suaves mãos,
Algum sinal que possa cristalizar em seus olhos,
A saudade que transborda no coração.


Busco no refluxo das palavras e a troca de passos no meio da praia,
A medida mais correta que possa banhar seus olhos,
Ver o quanto é possível sentir o horizonte,
Muito maior que nossas tolas veleidades.


Os dias podem ser mais difíceis,
Também podem ser mais cansativos,
Mas nada pode ser mais árido,
Do que o naufrágio da Paixão.


A doçura dos seus olhos que eu bem já conheço,
Também as ansiedades do seu coração,
Nada é novidade para mim,
Que tantas vezes foram sentidas à flor da pele.


Das dores, das flores, dos lábios,
Na noite escura e a vontade de velar seu corpo adormecido,
Nada pode ser tão ruim assim ou tão profundo que não possa emergir,
Quando a distância é uma árdua fenda oceânica.


Queria transformar seus dias mareados,
Em eternos momentos de belos sorrisos,
Mas sei que isto nem sempre é possível,
Porém ofereço minhas mãos para ampararem suas angústias.


No mar velejando de ausências,
Qual a correnteza com a força propulsora,
Que possa conduzi-la com segurança,
Na ilha secreta ostentada pelos seus olhos?


Num oceano de tormentas e adversidade atípicas,
Na imensidão eqüidistante entre o seu e do meu quarto,
Os presságios de saudade compõem triste melodia,
O silêncio do mar é a sinfonia dos dias em claro.


E assim os dias se arrastam tão calados,
Meu trabalho, seu trabalho, nosso cotidiano insólito,
Seguindo uma insípida toada recitada ao pé do ouvido,
Eu aqui, você aí e o mundo lá fora.

Um comentário:

Unknown disse...

Leio com frequência o seu blog e acho muito inteligente, romântica e as vêzes triste a maneira como vc se refere ao amor,que é tão enaltecido. Continue escrevendo assim. Vc diz coisas que eu fico imaginando como seria maravilhoso, se eu soubesse escrever assim também. Mas, essa capacidade não é para todos e sim somente para pessoas especiais como vc.meu querido amigo.