terça-feira, 19 de agosto de 2008

Cidade Niilista


Sinal fechado em mãos abertas,
Tarde de Sol com boa claridade,
O ar continua seco, mas amenizou a atmosfera fria,
É difícil transcrever algumas palavras com a devida exatidão.


O trem cambaleia com certa tranqüilidade,
Vagão vazio lembra a barca de Caronte,
Percorro meu olhar a volta,
Só há um silêncio que teima reinar absoluto.


Segue solene o trajeto da viagem,
Pensamentos que não pára em lugar algum,
Sentimentos fragmentos e vicissitudes apagadas,
Com quantos tijolos se faz um castelo?


O Sol continua a brilhar pelas janelas da composição,
Talvez fique assim por mais uma hora,
É possível crer que no final há sempre uma saída,
Para qualquer emergência, é bom utilizar um bom alicate que desvencilhe correntes.


A noite chega impregnada e sorrateira,
Na avenida que se intitula a mais paulista de todas,
Transeuntes dos mais diferentes nichos homogeneizados,
Risos histriônicos, piercings e dentes à mostra.


A cidade de tão grande que sua dimensão,
Se completa cheia de lacunas esvaziadas,
Os faróis dos carros flamejam como estrelas,
Os zumbidos de tão fortes se mesclam numa sinfonia anacrônica.


A mesa de bar é uma ilha num arquipélago sem graça,
As luzes que iluminam a cidade,
Nenhuma delas provém da imensidão áurea dos seus olhos,
Num copo meio cheio, meio vazio, não se encontra ninguém.


Para cada relance de olhos,
Um desejo que possa lhe encontrar,
Uma busca inócua no enorme palheiro de concreto,
A vida de tão áspera, eclipsa a dor.


Assim adentra a noite,
Não sei onde se encontra seus pensamentos,
E não sei como conduzir minhas mãos,
Sempre pedindo a sua direção.


Ruas semi-desertas com algumas almas perambulando,
Sexo fácil vendido com tabela de mercado,
Artificialidades do Amor a la carte,
A cidade sem rosto tem a mesma cor sensorial da noite.


Avenida Augusta sabe lá que número,
O copo se esvaziou lentamente,
Bauman e Maffesoli me fazem companhia,
Nada se traduz na indisfarçável vontade de senti-la comigo.


Sábado à noite,
Na cidade que quase não pára,
Sem pautar por melhores caminhos,
Resta-me a beber este café amargo.


Afinal, o Amor não é nada estranho,
É bem mais simples do que seja possível imaginar,
Na cidade materializada de solidão e indiferença,
Seus olhos ausentes transformam a maré gritante em saudades.

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