sexta-feira, 11 de julho de 2008

Anorexia Sentimental



Na terra abrasada pelos dias inglórios sem Sol,
Tudo era sempre uma longa e sôfrega noite,
Nada fazia clarear ou florir alguma pétala,
Nem mesmo uma perdida estrela no firmamento.

Tudo era muito frio e soturno,
O pouco ar permitido era seco e gélido,
Os olhos se tornaram prisioneiros do silêncio,
E nada era dito, pois as palavras foram cassadas.

Os sentimentos foram condenados sumariamente,
Não havia sequer tribunais para o julgo popular,
Apenas uma malta torpe de cruéis executores,
A solitude do cárcere era a impiedosa sentença.

E assim os dias perambulavam lentamente,
Como o profundo vazio de uma praia sem maré,
Como se fossem leprosos, os sonhos sempre deixados em quarentena,
E o pragmatismo visceral regia a batuta das dores.

No cântico urgido em desolação,
Nada era tão forte do que a prostração provocada pelo isolamento,
Uma anorexia dramática dos sentidos e algumas gotas de sangue,
E tudo passa a ser disfarçadamente transcrito debaixo da cama.

Não havia mais desejo ou saciedade,
Apenas vínculos enegrecidos de ruptura e castidade,
Renúncia de toda forma de Amor sensorial,
Medos e fantasmas velejando calmamente pelo inconsciente.

A saudade permanece atávica e gritante,
No abrigo calado do quarto sem iluminação,
Dedos entreabertos deslizando grãos de areia,
Tudo corre disfarçado por um pasteurizado sorriso.

A história atada pelos laços da apatia atirada às chamas,
Que teima em não fenecer em lugares-comuns acinzentados,
No lombo da carne, carrega o fardo de uma ciclotimia temporal,
E os momentos seguem calejados na estrada rachada de tanta secura.

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