Naquela quase desértica ilha do Pacífico,
Encontravam-se duas incógnitas figuras,
Silêncio e Dor eram afetuosamente siameses de pai e mãe falecidos,
Um era dia e a outra era noite.
Cresceram em desencanto e jamais se abraçavam,
A Dor era muito mais espontânea,
O Silêncio sempre foi retraído e indiferente,
Entre eles residia um relacionamento tão ofuscante e retrátil.
Quando a Dor mergulhava,
O Silêncio sempre ficava na areia,
Se a Dor emergia do mar,
O Silêncio retornava ao mar em profusão.
Tais instabilidades custavam-lhes os amigos,
A Dor queria sempre estar próximo,
O Silêncio sempre impunha a distância,
O diálogo era quase invariavelmente inexistente.
Sempre foram figuras polêmicas,
Uns acreditavam que a Dor era melhor do que o Silêncio,
Outros desejavam o Silêncio sem a Dor,
A unanimidade dizia que a união entre o Silêncio e a Dor era trágica.
A Dor sempre esboçava uma esbranquiçada lágrima,
O Silêncio nunca demonstrava sequer um amarelado sorriso,
De dia eram sonoramente incomunicáveis,
De noite reinavam quase eqüidistantes.
A Dor era simples e sem mistério,
O Silêncio era profundo e ao mesmo tempo evasivo,
Ocasionalmente um velho conhecido batia à sua porta,
Era o Medo que conseguia momentaneamente apaziguar o Silêncio e a Dor.
Órfãos, não chegaram a conhecer a família,
O Amor nunca ofertou uma única rosa para nenhum dos dois,
No jardim da Dor havia apenas ramalhetes de mágoas,
Em crises viscerais, o Silêncio era solitário à sua contraparte.
De tanto desejar os encantos enamorados da Morte,
Aquela Paixão bruta, secreta e fulminante,
A Dor adormeceu e caiu com grande enfermidade,
O Silêncio sempre indiferente dessa vez ficou preocupado.
Se a Morte levar a Dor,
O que o Silêncio iria fazer?
Afinal, sem a narcísea Dor, o Silêncio não era nada além de um eco no vazio,
Foi então que o Silêncio entendeu que a Dor era fundamental.
Fustigado e desesperado, o Silêncio procurou ajuda,
O Silêncio desejava resgatar a Dor de qualquer maneira,
Procurou então uma antiga amiga,
Porém a Agonia não suportava a Dor.
Pouco a pouco ficou notório o difícil círculo de afetividade,
A alegria se mostrou avessa a Dor,
Já a Tristeza e o Ódio se mostraram reticentes,
A Dor nunca foi uma grata companhia.
Os dias se passavam e a Dor sofrida continuava intacta,
Em tom de latente aflição e explosão cardíaca,
O Silêncio decidiu procurar o algoz desafeto,
O Amor sempre foi perturbador e generosamente incomodo.
Com o que restava de humildade, o Silêncio recuou o seu temperamento,
Suplicou ao Amor que fosse irradiar seus poderes ocultos,
Extrair sua irmã da moribunda letargia,
O Silêncio sabia que somente o Amor poderia atenuar a Dor.
Apesar dos entreveros do passado, o Amor sempre era digno de compaixão,
Uniu-se momentaneamente ao Silêncio para resgatar a Dor,
Na mesma toada, seguiram no comboio a Angústia e Reparação,
A Dor foi então assistida pelo Amor ao lado do Silêncio.
Transitada algumas horas após a visita do Amor,
Foi possível ver um leve sorriso nos lábios da Dor,
Ao seu lado, o Silêncio segurou suas mãos trêmulas,
E a Dor ainda febril começou a se levantar tateando os móveis do quarto.
Desde então a história começou a ser reescrita,
Uma nova união delineava os limites entre o Silêncio e a Dor,
Porém, a áspera lição enfim foi aprendida,
Sem a presença do Amor, nada é superado na vida.
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