quarta-feira, 16 de julho de 2008

Debaixo do Travesseiro (Subsídios para uma Canção de Amor)



Entre lábios trancados eu só tenho o silêncio,
Frio, distante e polvilhado de ingratidão,
Preso a medos indecifráveis e tangidos a fel,
Cozendo os dias de expectativa exaustão.


Entre a inviolabilidade das palavras,
Guardadas em segredos pelo lacre das pálpebras,
Mais um feriado na atmosfera congelada,
Com tanta parcimônia de sentidos, até o Sol se intimidou em brilhar.


Entre a fuga desmedida impregnada pelos seus pés,
Resta uma perplexidade que inunda meus sentimentos,
Como se a vida fosse um paradoxo vagando num insalubre cassino,
Quem joga nunca ganha; quem ganha jamais leva.


Entre as promessas de alcova e o sumiço da lógica afetiva,
O Amor não é um monocromático vaso decorativo na vida,
Tende ir bem além das aparências e se aprofunda visceralmente na alma,
Será que sua pueril sentimentalidade foi sufocada debaixo do travesseiro?


A vigília da ausência dos dias sem explicação,
A performance inexata dos receios regendo as ações,
O labirinto sensorial que desencanta o sorriso,
A opção voluntária pelo cercamento das dores em formol.


É difícil acreditar que exista algum caminho sem cacos de vidro pontiagudos,
Redobra-se a atenção e se priva de qualquer liberdade,
Fechada em si, o mundo aparenta sempre ser artificialmente mais tranqüilo,
É o Princípio do Prazer regendo o movimento em busca de um falso alívio.


O silêncio continua sua insensata tarefa de afastamento,
Sabotando qualquer possibilidade da troca de vocábulos,
Os fantasmas reinando livremente no arquipélago atormentado,
A perda sempre será sentida pela primeira pessoa do plural.


Inevitavelmente a noite cai num profundo desconforto,
Uma cidade inteira separa minhas mãos dos seus olhos,
Não desejaria tanto se não fosse à vontade de tranqüilizar seus dedos,
Quantas confissões são relatadas no destempero secreto do travesseiro?


Lembro-me de cada noite que velei o seu sono,
Cada leve toque da ponta dos meus dedos na maciez do seu rosto,
Queria ser bem maior do que sou,
Apenas para nunca se sentir desprotegida.


Não grite solitária quando todos já não possam ouvi-la,
Tantos orgulhos nos causaram mais males do que beatitudes,
Caso Deus exista, só peço que Ele possa lhe proteger,
Das minhas falhas, das minhas faltas, dos meus erros.


Da janela uma brisa corrente; Agora faz frio,
E tantas coisas que não posso sequer lhe dizer,
O silêncio da noite só é quebrado por uma canção,
Não acredito em anjos, mas queria ser o seu guardião.


O vazio dos dedos se aprofunda ansiando criar raízes,
Arborescendo numa floresta de mal-estar cristalina,
A vida escrita com um pequeno pedaço de carvão,
Não há versos que exalem a sensação da amplitude do vácuo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Considering the fact that it could be more accurate in giving informations.